"Só se eu arranjasse uma coluna de ferro pra agüentar mais...: contexto de produção agrícola, custo humano do trabalho e vivências de bem-estar e mal-estar entre trabalhadores rurais

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A investigação ergonômica no contexto produtivo agrícola ainda é incipiente e necessária. Relevante se torna para a melhoria dos processos, a concepção de produtos, equipamentos e instrumentos mais adaptados a este contexto e, principalmente, para melhoria das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores dedicados às atividades rurais. Respaldando-se nos conceitos elaborados em Ergonomia da Atividade: contexto de produção de bens e serviços, custo humano do trabalho, estratégias de mediação individual e coletiva e vivências de bem-estar e mal-estar no trabalho, a presente pesquisa teve como objetivo identificar a inter-relação contexto produtivo agrícola, custo humano do trabalho e vivências de bem-estar e mal-estar entre trabalhadores rurais envolvidos no processo de colheita de feijão. O estudo investigou trabalhadores rurais pertencentes a um Condomínio Rural, localizado em Unaí/MG, que realizam a atividade de arranquio e ajuntamento do feijão. A Análise Ergonômica do Trabalho deu suporte às técnicas e procedimentos empregados. O trajeto metodológico compreendeu a elaboração e utilização de diagrama corporal, entrevistas semi-estruturadas, discussões livres, observações de situações de trabalho e análise documental. Com base nos resultados concluiu-se que: a) as condições de trabalho disponíveis aos trabalhadores rurais ainda requerem transformações que levem em consideração o seu bem-estar. Identificou-se, entre outras coisas, que a ausência ou a improvisação de Equipamentos de Proteção Individual, a forma de remuneração adotada, bem como a gestão do absenteísmo pela Organização têm contribuído para elevar o custo humano do trabalho; b) a organização do trabalho tende a seguir uma lógica produtivista, de viés taylorista, ao igualar todos os trabalhadores e nivelar suas qualidades. O pagamento por produção adotado é fruto desta premissa e revela-se perverso, impondo determinado ritmo aos trabalhadores, refletindo nas relações socioprofissionais e pode estar, ainda, na etiologia das doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho, bastantes comuns entre os trabalhadores dedicados a esta atividade; c) a atividade requer que os trabalhadores adotem uma postura incômoda e lesiva; exige a execução de movimentos repetitivos com os membros superiores, caracterizando-se por elevada exigência física, contribuindo, assim, para a elevação do absenteísmo, para o surgimento das doenças osteomusculares e, juntamente com as condições de vida material desta população, colaboram para o desgaste e envelhecimento precoce dos trabalhadores; d) as estratégias de mediação adotadas pelos trabalhadores pouco contribuem para amenizar as fortes exigências da atividade e os aspectos contraditórios do contexto produtivo; e) as vivências de bem-estar resultam mais de uma forma de enfrentamento defensivo do que de identificação ou sentimentos positivos em relação ao trabalho; f) prevalecem entre os trabalhadores rurais vivências de mal-estar, identificadas nos sentimentos, atitudes e representações negativas do trabalho reveladas em seus discursos. Têm-se, com a investigação, a confirmação da hipótese formulada e as recomendações propostas focam melhorias concernentes, principalmente, às condições e à organização do trabalho. Além de revelar a validade do suporte teórico-metodológico para outros contextos produtivos, a pesquisa abre novas perspectivas de estudo necessárias à transformação do contexto de trabalho rural.

ASSUNTO(S)

contexto de produção rural ergonomics of activity ergonomia da atividade human costs of work trabalhadores rurais psicologia rural production context rural workers custo humano do trabalho

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