Sistema agroflorestal como alternativa de uso da terra: um estudo de caso na Unidade Demonstrativa de Permacultura (UDP) de Manaus-AM

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

13/10/2009

RESUMO

A conversão das florestas em outros sistemas de uso da terra na Amazônia, geralmente resulta no esgotamento dos nutrientes do solo, e no abandono de extensas áreas após a inviabilidade para a continuidade da produção agrícola. O uso de sistemas agroflorestais apresenta vantagens quanto ao aproveitamento das áreas já desmatadas, promovendo melhorias na fertilidade do solo, no desenvolvimento da vegetação e de diversas funções ecológicas. Neste estudo, o efeito do manejo com um SAF implantado em 1998 (SAF-10) sobre uma área abandonada após o uso intensivo na Escola Agrotécnica Federal de Manaus EAFM - (5956 00.22" W; 304 47.94" S), foi avaliado e comparado a uma capoeira de regeneração natural adjacente (CAP-10), e, à outra área de floresta secundária mais desenvolvida (FS-55), localizada no Centro de Projetos e Estudos Ambientais do Amazonas CEPEAM - (5954 23.65" W; 306 51.68"S). Os tratamentos foram comparados quanto às variáveis de vegetação (composição e estrutura), solo (macro, micronutrientes, e textura), liteira (massa e macronutrientes) e macrofauna edáfica (densidade, biomassa, distribuição e grupos funcionais). O experimento foi inteiramente casualizado, com três parcelas de 40x40m em cada sistema, subdivididas a cada 10m. As coletas foram realizadas entre o início de abril e final de junho de 2008, seguindo-se as recomendações do método TSBF Biologia e Fertilidade dos Solos Tropicais - (Anderson &Ingram, 1993). As análises químicas de solo seguiram a metodologia descrita pela EMBRAPA (1997), enquanto para a liteira, foram adotadas as recomendações de Sarruge &Haag (1974). A densidade dos indivíduos incluindo árvores e palmeiras com DAP ? 5,0cm foram maiores na FS-55 (1325 ind/ha) e CAP-10 (752), em relação ao SAF-10 (683); O número de espécies, famílias e gêneros botânicos também foram maiores na FS-55 (respectivamente: 129; 40; 74), por se tratar de um ambiente mais diversificado; A introdução de novas essências florestais, combinadas à condução da regeneração natural no SAF-10, resultou em maiores números de espécies, famílias e gêneros (65; 25; 54) em relação à CAP-10 (24; 17; 21). Os índices de Shannon (H) e de eqüabilidade (J) refletiram maior diversidade e uniformidade de distribuição das espécies na FS-55 (4,82 nats; 0,87), seguida pelo SAF-10 (3,43 nats; 0,82), e, com menores valores observados na CAP-10 (1,91 nats; 0,60). Algumas espécies foram comuns aos sistemas, principalmente àquelas de estágios iniciais de sucessão, onde a Tapirira guianensis apresentou altos valores de IVI. Uma análise por meio do método NMDS, cujo modelo explicou 48,5% dos dados, mostrou diferenças significativas entre as composições florísticas dos sistemas (p <0.01). Espécies comumente encontradas em abundância nas florestas da região apresentaram altos IVIs na FS-55, como a Guatteria olivaceae (20%) e alguns gêneros de Protium (18 e 11%); Na CAP-10, a Tapirira guianensis apresentou maior IVI (129%), entre outras espécies de estágio inicial de sucessão; No SAF-10 a espécie Bactris gasipaes foi dominante (IVI de 58%), seguida pela Leucaena leucocephala (33%), entre outras frutíferas (açaí, 32%; cupuaçu, 24%). Maior crescimento em diâmetro no SAF-10 foi evidenciado por uma distribuição diamétrica mais uniforme e parecida com a FS-55, enquanto na CAP-10 100% dos indivíduos apresentaram DAP entre 5-20cm. No SAF-10, o solo apresentou textura média, enquanto na FS-55 e CAP-10 estas foram muito argilosas. O solo correspondente à área do SAF-10, em 1998 já apresentava algumas vantagens nutricionais em relação à área correspondente à CAP-10, principalmente quanto aos teores de Ca2+, Mg2+, Zn e Mn. Uma análise de componentes principais (ACP) mostrou diferenças significativas entre os tratamentos (p <0,001); Os fatores 1 e 2 da ACP explicaram respectivamente, 71 e 16% dos dados, associando maiores valores de pH, Ca2+, Mg2+, P, Zn e Mn ao sistema SAF-10 (fator 1), e maiores concentrações de K+ e Al3+, atribuídas à CAP-10 e FS-55 (fator 1). O teor de K+ foi mais elevado na CAP-10, enquanto o Al3+ foi mais elevado na FS-55 (fator 2). A realização de uma calagem antes da implantação do SAF, em 1998, reduziu a acidez do solo e a quantidade de Al trocável. O plantio de espécies leguminosas para adubação verde, o uso de cobertura morta e a adição de composto orgânico no solo, também favoreceram o incremento da fertilidade no SAF-10, especialmente para o P. A reduzida quantidade de K+ no SAF-10, por outro lado, pode ter resultado da exportação ocasionada por espécies exigentes neste elemento (cupuaçu, pupunha e açaí). Uma ACP para determinar a massa e os macronutrientes da liteira demonstrou diferenças entre os sistemas (p <0.001); Os fatores 1 e 2, explicaram 45% e 15% dos dados. Tanto a massa de resíduos da liteira, quanto maiores teores de Ca2+, Mg2+, K+ e P, foram mais relacionados ao SAF-10 (fator 1), enquanto as massas dos componentes de folhas e material lenhoso, estiveram respectivamente mais associadas à CAP-10 e FS-55 (fator 2). O estoque de Ca2+ na liteira da FS-55 foi um pouco mais elevado em relação ao SAF-10, e menor na CAP-10. Os estoques de Mg2+, P e K+ foram mais elevados na liteira do SAF-10, seguidos pela FS-55 (com exceção do K, que depois do SAF-10 apresentou maior estoque na CAP-10). A densidade e riqueza de grupos da macrofauna edáfica foi maior na CAP-10, seguida pela FS-55. Já a biomassa total foi significativamente maior no SAF-10 (F=22,03; p <0,02). Houve a predominância de cupins e formigas na FS-55 e CAP-10, enquanto no SAF-10 predominaram os grupos, isopoda, oligochaeta e diplopoda. A diversidade e a densidade dos grupos de macrofauna foram superiores na liteira de todos os sistemas, enquanto a biomassa esteve mais concentrada na camada de solo de 0-10 cm de profundidade, especialmente devido à abundância de minhocas. A densidade de grupos de macrofauna decompositoras (isopoda, diplopoda, oligochaeta) foi significativamente maior no SAF-10 (F=11,94; p <0,01); Grupos predadores se destacaram na FS-55 (F=10,37; p <0,01), principalmente quanto à ordem dos arachnida; Herbívoros e outros foram maiores na CAP-10. A densidade do grupo dos engenheiros-do-solo foi mais elevada na FS-55 (1096 ind.m) e na CAP-10 (800 ind.m), em relação ao SAF-10 (337 ind.m), que, apesar disto, apresentou maior biomassa (F=14,25; p <0,01) em função da abundância de minhocas. Uma ACP confirmou estas tendências de maneira significativa (p <0,001), onde os fatores 1 e 2, explicaram respectivamente, 22% e 16% dos dados. A realização de testes de co-inércia entre a distribuição da macrofauna, associada às variações de pH, teores de Al3+, macro e micronutrientes, e granulometria do solo, bem como, quanto à massa e aos macronutrientes da liteira, resultaram em correlações significativas (p <0,05). As espécies da vegetação do SAF foram favoráveis à presença de grupos decompositores de macrofauna, fornecendo nichos adequados aos ispodas e diplopodas, principalmente; Um solo mais fértil e menos ácido no SAF-10, favorece a decomposição da matéria orgânica, resultando em maior oferta de alimento às minhocas. A CAP-10 demonstrou características intermediárias ao SAF-10 e à FS-55 quanto aos grupos de macrofauna, porém, em 10 anos parece ter recobrado boa parte dos grupos existentes numa floresta mais desenvolvida, tal como na FS-55. O manejo com o SAF-10 resultou numa composição menos diversificada e diferente, porém mais adequada aos processos deste sistema.

ASSUNTO(S)

nutrientes do solo e liteira composição e estrutura florística sistema agroflorestal recursos florestais e engenharia florestal macrofauna edáfica

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