Síndrome metabólica e stress em usuários de Unidades Básicas de Saúde da zona sul de São Paulo / Metabolic syndrome and stress in users of the Basic Health Units of the southern zone of São Paulo City

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Introdução: Entre os principais fatores que contribuem para o surgimento da Síndrome metabólica (SM) estão a predisposição genética, inatividade física, distúrbios da homeostase da glicose, hipertensão arterial, obesidade centralizada e dislipidemias. Por outro lado, o stress tem sido apontado como fator de risco para a obesidade centralizada e para a hipertensão arterial. A SM e o stress tem sido pouco avaliados em estudos populacionais. Objetivo: Verificar a prevalência de síndrome metabólica e do stress e a relação de ambos com o nível socioeconômico, hábitos comportamentais, condições de saúde e áreas de residência em usuários de Unidades Básicas de Saúde da zona sul de São Paulo. Métodos: Trata-se de um estudo de corte transversal, cuja amostra aleatória foi constituída por usuários, maiores de 20 anos, de Unidades Básicas de Saúde, situadas no Jardim Germânia, 187 usuários (com predominância de classe média) e no Jardim Comercial, 265 usuários (com predominância de classe pobre), totalizando 452 usuários. Os indivíduos que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para detectar a presença de stress foi utilizado o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL). Para o diagnóstico da SM utilizou-se o critério proposto pela International Diabetes Federation (circunferência da cintura com valores étnicos especificados, sendo para os sul americanos, cintura abdominal 80 cm para mulheres e 90 cm para homens), mais dois quaisquer dos quatro seguintes critérios: glicemia de jejum 100 mg/dL; triglicerídeos 150 mg/dL; colesterol HDL <40 mg/dL em homens e <50 mg/dL em mulheres; pressão arterial com valores de corte considerando 130/85 mmHg ou tratamento de hipertensão previamente diagnosticada. Para efeitos comparativos utilizou-se também, o critério do NCEP ATP III que define como SM a presença de 3 a 5 fatores de risco metabólicos em um único paciente. Os componentes e os valores seriam os mesmos recomendados pelo IDF, exceto para a circunferência da cintura, respectivamente para homens >102 cm e para mulheres >88 cm e glicemia de jejum 110 mg/dL. A avaliação laboratorial e clínica constou dos seguintes exames: glicemia de jejum, colesterol total e frações, triglicerídeos e mensuração da pressão arterial. Na avaliação antropométrica foram aferidas medidas de peso, estatura, circunferências abdominal e do quadril. Foi utilizado questionário geral para obtenção de dados sociodemográficos, socioeconômicos, antecedentes familiares e pessoais de morbidades, hábitos comportamentais como tabagismo, etilismo e atividade física. Para avaliação da atividade física foram utilizados o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) versão longa modificada junto com o Questionário do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) e o método preconizado pela OMS 1985. Análise Estatística: Foi realizada análise exploratória dos dados visando o conhecimento da amostra. Efetuou-se cálculo da prevalência bruta da SM e stress por sexo e por local de residência. Neste trabalho, o nível de significância adotado foi de 5 por cento. Foi estabelecida associação entre as variáveis explicativas de interesse e SM e stress, empregando-se a regressão logística multivariada. Na regressão logística, a verificação do ajuste dos modelos foi realizada por meio do teste do quiquadrado e teste de Hosmer Lemeshow. A presença ou não de multicolinearidade (alta correlação entre as variáveis independentes) foi testada em cada modelo, empregando-se critérios para diagnóstico de multicolinearidade. Resultados: A maioria dos participantes do estudo era do sexo feminino, UBS Jardim Comercial 59,2 por cento e UBS Jardim Germânia 67,4 por cento, a faixa etária com maior representatividade foi 40 49 anos para ambos os sexos nas duas UBS, respectivamente 26,4 por cento e 21,4 por cento. No Jardim Germânia, os percentuais de SM para os homens foram 18 por cento e 11,5 por cento, pelos critérios do IDF e do NCEP ATP III, respectivamente; para as mulheres, por esses critérios, foram de 25.4 por cento e 19 por cento. No Jardim Comercial, os percentuais para os homens foram 27,8 por cento (IDF) e 20,4 por cento (NCEP ATP III). Para as mulheres, 24,2 por cento (IDF) e 19,7 por cento (NCEP ATP III). No Jardim Germânia, o percentual de stress para os homens foi de 60,7 por cento e para as mulheres 84,1 por cento. No Jardim Comercial, o percentual para os homens foi de 43,5 por cento e para as mulheres de 69,4 por cento. A maioria dos participantes do estudo que apresentaram stress, se encontravam na fase de resistência. A fase de quase-exaustão foi encontrada principalmente entre as mulheres: 13,4 por cento no Jardim Comercial e 26,2 por cento no Jardim Germânia. Quanto à associação entre Stress e variáveis nas duas UBS, o sexo feminino apresentou 3 vezes mais chance (OR=3,275; p<0,001) de ter stress do que o sexo masculino. A escolaridade foi analisada como variável contínua, mostrando relação direta com o stress. Não houve relação significativa entre o tabagismo e o stress e o etilista tem o triplo de chance (OR=3,007; p<0,001), comparado ao não-etilista. O sobrepeso teve relação direta com o stress (OR=1,596; p<0,001) e a obesidade (OR=1,478; p<0,001) também. O bairro de Jardim Comercial apresentou relação inversa com o stress. Os níveis de atividade física sedentário e leve, comparados aos níveis de atividade moderada e intensa, aumentam a chance de ter stress. Em relação à associação entre SM segundo critérios do IDF e variáveis em ambas as UBS as mulheres têm o dobro de chance de SM (OR=2,055; p<0,001) do que os homens. A escolaridade apresentou relação inversa com a SM. Com relação aos hábitos comportamentais, o tabagismo foi positivamente associado a SM, apresentando o dobro de chance(OR=2,553; p<0,001) comparado ao não tabagismo. O etilismo não apresentou relação significativa. Indivíduos que residem no bairro Jardim Comercial tem mais que o dobro de chance de ter SM (OR=2,399; p<0,001). Os sedentários (OR=2,407; p<0,001) e os que tem um nível de atividade física leve (OR=2,076; p<0,001) têm mais que o dobro de chance de ter SM em relação aos ativos e com nível moderado de atividade física. O stress apresentou uma relação altamente significativa com a SM, (OR=1,690; p<0,001). Antecedentes familiares de Hipertensão, Diabetes e Doenças Cardíacas foram significativamente relacionados com a chance de SM. Sobre a associação entre SM segundo critério do NCEP ATP III e variáveis nas duas UBS, o sexo feminino apresentou 1,8 vezes mais chance de SM comparado ao masculino. A escolaridade apresentou relação inversa. Quanto aos hábitos comportamentais, os fumantes apresentaram quase 4 vezes mais chance de SM comparados aos nãofumantes. Os etilistas apresentaram mais chance (OR=1,459; p<0,001; ) que os nãoetilistas. Residir no bairro Jardim Comercial significa ter 2,3 vezes chance de SM. Possuir antecedentes familiares de hipertensão e diabetes foram significativos para ter SM na população de estudo. O sedentarismo e baixo nível de atividade física aumentam significativamente a chance de a população ter SM comparados aos níveis de atividade física moderada e intensa. Conclusões: Os diversos resultados sugerem que as morbidades que compõem a SM são associadas ao stress, e apontam o stress como um grave problema de Saúde Pública nessa população. Medidas preventivas e educativas devem ser consideradas para contribuir com uma melhor qualidade de vida para esta população; bem como a definição de políticas públicas para a promoção da saúde, principalmente na área de saúde mental.

ASSUNTO(S)

behavioral habits fatores socioeconômicos socioeconomic factors stress hábitos comportamentais metabolic x syndrome sress síndrome x metabólica

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