Sexualidade e vulnerabilidade social de pessoas com transtornos mentais atendidas em serviços públicos de saúde mental no Brasil

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

18/04/2011

RESUMO

Em face das altas taxas de prevalência de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e HIV/AIDS detectadas em pessoas com transtornos mentais no Brasil, e das limitações nas atuais abordagens preventivas generalizadas e focadas em decisão racional, o objetivo do presente estudo foi compreender representações dessas pessoas sobre sexualidade, enfocando o autocuidado para a prevenção dos referidos agravos. Visou-se colaborar, com dados e reflexões, para a elaboração de novas estratégias de atenção à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência. Foram realizadas entrevistas abertas e em profundidade com 39 pessoas com transtornos mentais severos e persistentes atendidas em serviços públicos de saúde mental no Brasil, sendo 22 homens e 17 mulheres, com idades entre 18 e 72 anos. As representações sobre sexualidade se mostraram constituídas por um leque de representações, dentre as quais sobre o sexo, os parceiros sexuais e as práticas sexuais, formando uma teia de representações interdependentes, explicitadas em seus roteiros sexuais. Elas apresentaram grandes assimetrias de gênero, o que esteve intimamente relacionado às concepções de masculinidade e feminilidade, de onde se originam comportamentos que favorecem a vulnerabilidade aos agravos sexualmente transmissíveis. São representações fortemente ancoradas em normas sociais e em experiências de vida, não tendo sido identificado nestas origens no discurso científico. O autocuidado para a prevenção dos agravos sexualmente transmissíveis, apesar de reconhecido como necessário, é realizado com deficiências e dificuldades, o que decorre de diversos fatores objetivos e aspectos subjetivos. Dentre estes, o tabu que envolve a temática da sexualidade; a sensação de segurança em parceiros conhecidos e com boa aparência; pelo temor de ter a relação afetada pelo uso de preservativo, representado como um indicativo de desconfiança entre o casal, e também pelo pouco conhecimento sobre as infecções sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS e sobre o uso dos métodos preservativos. A vulnerabilidade deste grupo face aos agravos sexualmente transmissíveis mostrou-se agravada pelo contexto de exclusão social no qual se encontra inserido, marcado pela pobreza, baixa escolaridade, desamparo, baixa auto-estima, violência e drogadição. Esse contexto, além de dificultar ainda mais o autocuidado, o que esteve refletido em situações de violência sexual sofrida, mostrou-se favorecedor de comportamentos que contribuem para outros comportamentos de risco, como o de venda de sexo. Os resultados mostram a necessidade de se reconhecer e promover a saúde sexual como um direito também das pessoas com transtornos mentais, e de se considerarem os aspectos socioculturais envolvidos na vivência sexual e no autocuidado deste grupo para que a saúde sexual seja possível para estas pessoas. Contudo, isto não bastará se não houver o combate aos estereótipos de gênero, que tantos danos têm ocasionado para a saúde individual e pública.

ASSUNTO(S)

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