“Se pá, não era!” : relações geracionais e adultocentrismo no orçamento participativo de Porto Alegre

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Com o processo de redemocratização das instituições políticas brasileiras, ampliaram-se iniciativas visando à participação da sociedade civil em decisões públicas. Neste contexto, o Orçamento Participativo (doravante OP) de Porto Alegre formalmente possibilita a participação cidadã no planejamento dos recursos públicos da cidade. Contraditoriamente, observam-se baixos índices de participantes em idades até 25 anos, índices agravados nas instâncias de maior representatividade e poder de decisão – observação que reforça crescentes análises acerca do desinteresse da maioria de pessoas tidas como jovens em instituições democráticas, em detrimento de formas não tradicionais e institucionalizadas de exercício da cidadania. Porém, muitas destas análises reproduzem concepções substancialistas, essencialistas e naturalizadas ao definir juventude como período de transição entre infância e vida adulta. Paradoxalmente, sustenta-se aqui um deslocamento epistemológico, considerando-se o objeto como socialmente construído, estruturalmente situado na dimensão das relações geracionais – relações forjadas em exercícios de poder e dominação, distintas nos variados contextos. Portanto, o tema de pesquisa consiste nas relações geracionais no contexto das inovações participativas institucionalizadas, tendo como objeto empírico as relações de poder entre as gerações no OP de Porto Alegre. O objetivo é identificar os tipos de relações estabelecidas entre as gerações que compartilham o espaço comum formado pelo OP. A análise dos dados produzidos indica a validade da hipótese: as relações de poder entre as gerações são marcadas pelo adultocentrismo, objetivado e legitimado através de percepções evolucionistas acerca do curso da vida e de juventude como período de preparação para a vida adulta – compreendida como de plenas condições para exercício responsável da cidadania. É também manifestado em modelos hegemônicos de atuação, notadamente contrários às linguagens associadas às pessoas entendidas e que se entendem como jovens. A gerontocracia é favorecida no desenho institucional, procedimentos e regras vigentes no OP, obstaculizando o aprofundamento da democracia e efetivação deste como modelo de democracia deliberativa. Portanto, o adultocentrismo orienta estratégias privilegiadas para a ascensão política de participantes de gerações notadamente identificados com o mundo adulto e à velhice, bem como, é fator significativo para que seja negada, obstruída e/ou desestimulada a participação de gerações identificadas como de jovens no processo como um todo e em instâncias com maior poder de decisão.

ASSUNTO(S)

juventude generational relations adultcentrism participação social youth orçamento participativo social participation participatory budget

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