Sabedoria e revisão de vida : o desempenho de um grupo de mulheres em diferentes idades

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1997

RESUMO

Tradicionalmente, a velhice é considerada como tempo de perdas e decadência. Mesmo as ciências comportamentais basearam-se nessa concepção para a condução da maioria dos seus estudos sobre velhice e envelhecimento. A teoria de -curso de vida, que se desenvolveu a partir dos anos 70, de orientação dialética representa uma mudança em relação a este ponto de vista. Esta teoria defende a idéia de que a velhice apresenta um equilíbrio entre ganhos e perdas e que estes podem ser compensados por diversos mecanismos. A sabedoria é apontada como ganho típico da velhice e vista como produto da influência da cultura e da educação. É um tipo de conhecimento especializado, indicador da possibilidade de continuidade do desenvolvimento intelectual na velhice. Culturalmente, a sabedoria é identificada como um conhecimento superior a respeito de questões difíceis da existência e como uma capacidade superior de dar aconselhamentos. Ao tentar defini-la operacionalmente, Baltes e seus colaboradores definem como uma forma de desempenho intelectual altamente especializado e especificam as seguintes características: elevado conhecimento factual e de procedimentos, capacidade de considerar o contexto, capacidade de relativizar valores e circunstâncias e capacidade de levar em conta a incerteza, em situações-problema envolvendo revisão, planejamento e manejo de vida. A pesquisa empírica tem mostrado que a experiência acumulada, ao longo do curso de vida, é fator necessário, porém não suficiente, para explicar a emergência de conhecimento identificável como sábio. Os tipos de experiência vivenciados no contexto social, a experiência profissional e fatores de personalidade, entre outros que estão sendo investigados na pesquisa internacional, são eventos possivelmente responsáveis pela emergência de comportamento sábio no curso de vida. Este estudo envolveu a análise dos protocolos obtidos pelo discurso de 20 mulheres (N=20). As idades variaram entre 35 e 82 anos, em uma situação em que um problema foi simulado, envolvendo revisão de vida, visando à identificação de características compatíveis com os cinco critérios de desempenho sábio descritos por Staudinger, Smith e Baltes (1992). O objetivo principal foi verificar a relação entre a idade e o desempenho intelectual especializado concernente a questões da existência e seus dilemas. A situação experimental comportou a administração de um cartão impresso, contendo a descrição de um dilema de vida a cada participante, sendo que a personagem tinha a idade aproximada dos sujeitos. Estes eram convidados a "pensar alto" sobre as maneiras de solucionar o dilema, que envolvia uma situação de revisão de vida. Ao mesmo tempo suas respostas eram gravadas em áudio. Os procedimentos e critérios de avaliação foram os descritos em um manual desenvolvido por Staudinger, Smith e Baltes (1994). Dois juízes treinados realizaram análise de conteúdo das verbalizações, identificaram as categorias emergentes e atribuíram-lhes pontuação em escala nominal de sete pontos. Além disso, avaliaram a extensão e o tempo dos desempenhos. Os dados também foram submetidos à análise estatística descritiva não paramétrica. Resultaram as seguintes evidências: 1) Dentre os vinte sujeitos, apenas dois apresentaram desempenho identificável como sábio. 2) Não foi observada correlação estatisticamente significante entre idade e desempenho sábio. 3) O grupo como um todo desempenhou-se melhor nos critérios relativos a conhecimento factual e de consideração de elementos do contexto. 4) Houve uma correlação positiva entre a extensão dos protocolos e a duração da fala com o desempenho intelectual. 5) Houve uma correlação positiva entre os desempenhos correspondentes à maioria dos critérios. 6) Os sujeitos que apresentaram melhores resultados atuaram mais na direção de oferecer ajuda e conselho. 7) Os principais temas emergentes no discurso do grupo foram: família e carreira; mudança de rumo da vida após o término da criação de filhos; insatisfação com as escolhas passadas; dependência x independência financeira; dedicação à família como fonte de satisfação pessoal; reflexões sobre a vida passada; diferentes possibilidades de realização pessoal; segurança no lar x insegurança no trabalho e enfrentamento de crises como uma possibilidade de aprendizagem e mudança. Os resultados correspondem a literatura internacional, mas o tamanho da amostra e o fato de não ser aleatória desaconselham generalizações mais amplas. De modo geral, os resultados sugerem que o desempenho analisado é influenciado por eventos educacionais e pela experiência de vida

ASSUNTO(S)

envelhecimento psicologia do desenvolvimento sabedoria

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