Representações sociais dos profissionais de saúde das unidades de pronto atendimento sobre o serviço de atendimento móvel de urgência

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A partir dos anos noventa do século passado, foram observadas mudanças significativas no atendimento às urgências no Brasil, principalmente, pelo aumento da demanda gerada pelos crescentes índices de violência urbana e acidentes de trânsito que passaram a ser tratados como problemas de saúde pública. A regulamentação da atenção às urgências em todo o país foi abordada em várias Portarias do Ministério da Saúde. Entre elas a Portaria nº 1.864 de 2003, instituiu o componente Pré-Hospitalar Móvel, por meio da implantação de Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). A implantação do SAMU permitiu o socorro adequado às vítimas, contribuindo para minimização de seqüelas e aumento do prognóstico favorável e o atendimento de usuários com demandas clínicas, obstétricas e psiquiátricas, tendo como retaguarda Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e hospitais de Pronto Socorro. No município de Belo Horizonte - MG, as UPA atendem uma grande demanda espontânea e, ao receber os pacientes encaminhados pelo SAMU, se vêem obrigadas a atendê-los o que gera conflitos entre os profissionais do SAMU e das UPA. Considerando que as representações sociais são elaboradas no âmbito dos fenômenos comunicacionais e modificam-se pelas interações e mudanças sociais, entende-se que, no micro espaço das UPA, os trabalhadores de saúde possam ter diferentes representações sociais sobre o SAMU. Este estudo teve como objetivo analisar as representações sociais dos profissionais de saúde das Unidades de Pronto Atendimento sobre o SAMU. O estudo fundamentou-se na Teoria das Representações Sociais proposta por Moscovici (1978) e a Teoria do Núcleo Central elaborada por Abric (1998), utilizando o software EVOC 2003. Constituram o cenário do estudo quatro UPA de Belo Horizonte, sendo duas que recebem muitos usuários atendidos pelo SAMU e duas que recebem menos. Os sujeitos da pesquisa foram 274 profissionais de saúde das UPA, ou seja, médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário com itens que identificavam o perfil dos entrevistados e solicitação de evocação livre sobre o termo indutor SAMU. Os resultados mostram que 31,1% dos profissionais são do sexo masculino, 67% feminino e 1,9% não declararam. A maioria dos profissionais é composta por profissionais com mais de 25 anos (93%), casados (45,6%) seguidos de 37,6% de solteiros, 11,3% de divorciados, 1,8% viúvos e 3,7% não especificaram sua situação civil. Em relação às categorias profissionais, 56,2% eram auxiliares e técnicos de enfermagem, 32,5% médicos e 11,3% de enfermeiros. Em relação ao tempo de trabalho na UPA 39,2% tem mais de cinco anos, 23,4% estão entre um e quatro anos, 36,3% tem menos de um ano e 1,1% não souberam responder. O corpus do trabalho foi formado pelas evocações livres. Foram evocadas 1338 palavras, sendo 108 palavras diferentes que foram agrupadas em 85 palavras padronizadas. No quadro de quatro casas geral, construído a partir das evocações ao termo indutor SAMU, pode-se observar o conteúdo de sua representação social, bem como a estrutura e a hierarquia dos elementos de seus sistemas cognitivos. No quadrante superior esquerdo, encontram-se os possíveis elementos do núcleo central da representação deste estudo, ou seja, correspondem aos elementos mais importantes no desenho da estrutura das representações sociais pensadas por esses profissionais de saúde. Nesse núcleo central estão as seguintes palavras: emergência, etilista, rapidez, resgate, transporte e urgência, as quais refletem a imagem representada do SAMU pelos sujeitos, imagem essa predominantemente positiva e de reconhecimento de seu trabalho. Os elementos identificados têm caráter sobretudo funcional do SAMU referindo-se às características descritivas e à inscrição do objeto nas práticas sociais desses sujeitos. Nesse caso, o SAMU seria um dos tipos de assistência pré-hospitalar móvel responsável pelo atendimento rápido, de resgate ou de transporte, de pacientes com quadros de urgência ou emergência declarados. Aparecendo, ainda, como fator contraditório e inesperado, o elemento etilista, demanda social reprimida até então que passa a ganhar espaço nos serviços de saúde de urgência. No quadrante superior direito, primeira periferia, encontram-se as palavras casos-graves e trauma que reafirmam e reforçam o papel do SAMU no atendimento de urgência e emergência como traumas e casos-graves. As palavras agilidade, atendimento, conflito, equipe-despreparada, pré-hospitalar e salvarvidas encontram-se no quadrante dos elementos contrastantes ou intermediários, ou seja, elas trazem discussões a respeito do que se encontra no núcleo central e, ao mesmo tempo, algumas representam elementos de tensão nas relações entre os setores estudados. Tais elementos influenciam o núcleo central e são pontos que devem ser abordados para interferências nos comportamentos e percepções acerca do SAMU. As palavras localizadas no quadrante inferior direito, segunda periferia, são habilidade, humanização, precário e regulação. Nesse espaço da representação do SAMU, observam-se atitudes positivas frente ao SAMU, reconhecendo-o como portador de habilidades e capaz de ser um instrumento de humanização do atendimento. Mas, ao mesmo tempo, revelam que esse serviço é entendido como precário em sua estruturação, nas relações e atendimentos que realiza. Ainda nesse espaço, discute-se a regulação enquanto um processo necessário, mas no momento falho e distante da realidade dos profissionais que estão na ponta. Assim, considera-se que o SAMU é um espaço de decisão e de inter-relações na rede de urgência, influenciado por determinantes econômicos, políticos e simbólicos que alteram o desenvolvimento de seu papel e o reconhecimento de seu trabalho. Foi possível perceber que o SAMU é representado positivamente pela maioria dos sujeitos, sendo muitas vezes criticado por problemas já presentes no processo de trabalho das Unidades. Entendendo que o SAMU é uma estratégia nova que pode ser aprimorada, consideramos importante a discussão do funcionamento das redes de referência e contra-referência e sua organização, de forma a melhorar as relações entre os profissionais dos dois serviços e garantir a otimização desse recurso.

ASSUNTO(S)

ambulâncias decs serviços médicos de emergência decs transporte de pacientes decs dissertações acadêmicas decs humanos decs enfermagem teses enfermagem decs percepção social decs relações interprofissionais decs questionários decs

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