Representações sociais de estudantes negros: universidade e trabalho

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

15/03/2011

RESUMO

Os indicadores sociais acerca da educação e das relações de trabalho no Brasil apontam que as desigualdades são ainda mais críticas quando a análise é feita sob a ótica etnicorracial, evidenciando uma situação de visível desvantagem para a população negra. Contudo, a literatura tem revelado ser a educação tradicionalmente um dos principais instrumentos capazes de promover a ascensão social e econômica do negro. Dessa forma, várias instituições educacionais de nível superior têm implantado o sistema de reserva de vagas, fruto das reivindicações do movimento negro brasileiro. Logo, essa pesquisa buscou compreender as relações entre negritude, educação e trabalho, a partir da perspectiva de estudantes universitários negros. O objetivo deste estudo foi estudar as representações sociais que possuem os estudantes negros da UFSCar sobre a entrada na universidade pública por meio do sistema de reserva de vagas, o curso e a profissão escolhida e a inserção e/ou permanência no mercado de trabalho. Especificamente, pretendeu-se analisar o Programa de Ações Afirmativas (PAA) da UFSCar, suas propostas, políticas, estratégias; conhecer as características sócio-econômicas dos estudantes, especialmente aquelas que dizem respeito à trajetória escolar e de trabalho; conhecer as representações sociais dos estudantes em relação à formação e o ingresso no mercado de trabalho; e, por fim, discutir o impacto das relações estabelecidas no contexto universitário sobre a identidade etnicorracial dos estudantes. Foram realizadas entrevistas individuais com 13 estudantes pretos e pardos, ingressantes na UFSCar a partir de 2008, via sistema de reserva de vagas ou não. Além disso, foram feitas entrevistas coletivas com parte dos estudantes entrevistados individualmente. Pôde-se verificar as relações existentes entre o senso de pertencimento, a identidade etnicorracial e as representações que são engendradas sobre as relações raciais e ações afirmativas. Percebemos, portanto, alunos negros que identificam-se e afirmam-se como negros, são participantes de grupos afirmativos, engajados nas discussões raciais e, identificam-se também como reservistas ingressantes pelas vagas destinadas a alunos negros. E, há aqueles para os quais raça e etnicidade não são elementos salientes em sua identidade, não partilham de grupos afirmativos e demonstram dificuldades de assumirem-se como ingressantes pela reserva de vagas para negros. As representações acerca da implantação de reserva de vagas para negros são tomadas como algo positivo, devido à crença de que elas possibilitam a entrada do negro na universidade; possibilitam a entrada dos desfavorecidos; e diminuem a desigualdade. A apreensão dessa política como algo negativo deve-se à representação de que instituir tais medidas: é assumir a incapacidade do negro; traz complicações constitucionais; desvia o foco do real problema que é a educação base, gera preconceito; cria a desigualdade; e por fim, conta com a dificuldade de se definir quem é negro no Brasil. As mesmas relações e formas de representações foram verificadas acerca da reserva de vagas para negros no mercado de trabalho. Percebemos que, aqueles estudantes que apresentam uma identidade etnicorracial afirmada representavam as relações entre ser negro, ensino superior e mercado de trabalho de forma mais crítica e propositiva. Assim, estudantes cuja identidade etnicorracial não se apresenta de maneira tão saliente, representavam essas relações de forma a negar a existência de racismo, buscando minimizar a própria afetação num quadro de discriminação racial, o que está atrelado à contrariedade acerca das ações afirmativas no ensino superior e no mercado de trabalho.

ASSUNTO(S)

psicologia negros representações sociais universidade ações afirmativas blacks social representations university work affirmative actions trabalho

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