Representação do feminino em uma escritura desautorizada : Celeste, de Maria Benedita Câmara Bormann e O perdão, de Andradina Andrade de Oliveira

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A historiografia literária brasileira, em especial, a do século XIX e início do século XX, foi construída a partir de textos literários canônicos, vale dizer, textos de autoria masculina, o que resultou na invisibilidade da produção feminina da época. No século XX, a partir dos anos 80, fazendo coro com o que já ocorria em outros países, desenvolveram-se, no Brasil, estudos que focalizam questões referentes às diferenças de gênero e ao lugar que ocupa a mulher na sociedade, fomentando pesquisas que remetem às discussões sobre a mulher escritora, o cânone literário e as produções colocadas à sua margem. Nessa linha, esta tese destaca duas escritoras sul-rio-grandenses, Maria Benedita Câmara Bormann, com a obra Celeste (1893), e Andradina América Andrade de Oliveira, com a obra O perdão (1910), as quais não lograram um espaço em histórias da literatura brasileira. A investigação desse corpus examina a inserção dessas escritoras no contexto dos processos histórico-cultural de seu tempo, analisa o espaço do universo ficcional através das representações de gênero e do corpo feminino e das relações entre sujeito feminino e ideologia patriarcal bem como pontua posicionamentos de valor, inscritos na instância discursivo-textual, como forma de verificar como as obras dialogam com o seu tempo. A análise é pautada na apropriação de aportes da teoria feminista, como noções normativas de gênero, como aparato de poder e lugar de manutenção da ideologia patriarcal, e busca identificar como se dá sua construção, reprodução ou subversão nos textos, além de destacar as intervenções que ocorrem na ideologia que os fundamenta. Este estudo insere-se na área de Literatura Comparada pelo viés da interdisciplinaridade, o que possibilita o diálogo com outros campos do conhecimento como a psicanálise, a sociologia e a história. Foi possível evidenciar que o script narrativo de Celeste e O perdão desenha-se na contramão do cânone naturalista, na medida em que não subscreve o discurso perpassado pelo cientificismo, que reduz o sujeito feminino a um corpo histérico. O discurso narrativo das obras preserva a natureza humana das personagens, pois se distancia do estereótipo inscrito no modelo naturalista e evidencia o ponto de vista da narração feminina.

ASSUNTO(S)

literatura comparada bormann, maria benedita, 1853-1895 mulher oliveira, andradina américa andrade de, 1878-1935 mulher na literatura sul-rio-grandense

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