Repertórios discursivos sobre cotas raciais e suas implicações no tratamento de alunos cotistas

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

24/02/2012

RESUMO

Este estudo se insere no contexto das Ações Afirmativas (AA) do tipo cotas raciais em Instituições de Ensino Superior (IES) públicas. Desse modo, diante da profunda discriminação existente contra negros no Brasil, o objetivo geral desta dissertação foi investigar as possíveis relações entre os repertórios discursivos sobre as cotas raciais e a percepção de discriminação dos cotistas negros. Para tanto, foram desenvolvidos dois estudos sustentados nas construções teóricas acerca das novas formas de expressão do preconceito e do racismo. No Estudo 1, procurou-se investigar os repertórios discursivos de estudantes universitários acerca das cotas para negros em IES públicas. Os estudantes universitários (n = 105), a maioria do sexo feminino (55%) com idades entre 18 e 58 anos (M = 23,6; DP = 6,79), responderam a um instrumento composto por questões sociodemográficas, além de uma questão aberta, contemplando o posicionamento dos estudantes frente às cotas raciais. A análise a partir do software Alceste evidenciou três grandes classes discursivas com conteúdos de oposição às cotas raciais. O discurso mais representativo (Classe 3 - 63,20%) apontou para oposição às cotas baseada na idéia de que negros e brancos são iguais. O Estudo 2, com um delineamento quase-experimental, buscou analisar como contextos discursivos acerca da implantação de cotas raciais em IES públicas poderiam se relacionar com o posicionamento de estudantes de Ensino Médio (n = 581) de escolas públicas e privadas de João Pessoa/PB frente à possibilidade de discriminação de alunos cotistas. A maioria eram alunos de escolas privadas (52%) e mulheres (57%), com idades variando de 15 a 35 anos (M = 17; DP = 1,16), tendo respondido a instrumento composto por questões sociodemográficas e três questões acerca de como o cotista poderia ser tratado, respectivamente, por professores, colegas e empregadores. A partir da análise de conteúdo realizada sobre as respostas dos participantes, emergiram seis categorias: cotistas são menos capazes, somos todos iguais, cotas são injustas, haverá preconceito, depende da habilidade do cotista, depende do outro (empregador/colega/professor). No entanto, as análises do Teste de Associação do Qui-quadrado não demonstraram efeitos significativos dos tipos de contextos discursivos nas categorias que emergiram acerca do tratamento de colegas e professores. Os tipos de contextos discursivos tiveram efeito significativo apenas sobre as categorias do tratamento de empregadores. No entanto, o tipo de escola apresentou efeito significativo nas categorias acerca do tratamento de colegas, professores e futuros empregadores. Assim, a pertença social, ser de escola pública ou privada, foi mais importante para explicar o tratamento destinado ao cotista do que os tipos de discursos existentes sobre as cotas. No geral, os resultados desta investigação denunciaram, por um lado, que a resistência à implantação de políticas afirmativas para negros utiliza discursos justificadores com base na igualdade para legitimar condições de desigualdade entre negros e brancos. Por outro, a evidência de que haverá preconceito contra o cotista sugere a relevância social deste estudo na elaboração de estratégias de combate ao preconceito e discriminação em relação aos cotistas negros.

ASSUNTO(S)

negros cotistas ações afirmativas psicologia social affirmative action quota holders blacks discrimination prejudice preconceito discriminação

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