Relacoes semântico-cognitivas no uso da preposição "em" no português do Brasil

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

13/08/2009

RESUMO

O interesse na semântica de preposições por linguistas cognitivos tem propiciado uma rica literatura sobre modelos de rede de polissemia, baseados no conceito de categorias prototípicas. Apesar de sua reconhecida coerência, esses modelos deram origem a críticas não apenas quanto à sua diversidade, mas, em particular, no que concerne a sua presumida natureza cognitiva (SANDRA &RICE, 1995 e CROFT, 1998), notadamente o grau de compatibilidade entre a visão do pesquisador e a do falante leigo. Inspirada por este último questionamento, esta tese apresenta uma análise semântico-cognitiva da polissemia da preposição em do português do Brasil, utilizando dois métodos empíricos: uma análise introspectiva baseada em um corpus de 1,2 milhões de palavras de textos jornalísticos e um experimento psicolinguístico com universitários não-treinados, falantes nativos do português do Brasil. Para explicar a polissemia dessa preposição, adotou-se especialmente o modelo teórico de linguagem baseado no uso e a noção de conceitualização (LANGACKER, 1987), a proposta da linguagem corporificada, em especial, esquemas imagéticos (JOHNSON, 1987), a noção de metáforas conceituais (LAKOFF &JOHNSON, 1980), a semântica de classes fechadas (TALMY, 2000) e funções relacionais envolvidas na semântica de preposições espaciais (VANDELOISE, 1991). O estudo explorou o aspecto cognitivo da proposta teórica em duas etapas: primeiramente, buscou-se explorar os processos cognitivos envolvidos na interpretação de usos sincrônicos da preposição e na ligação entre os mesmos, seguindo o modelo de rede esquemática (LANGACKER, 2008, 1987), que prevê relações de esquematização/instanciação e de sancionamento por extensão. A análise de 2813 ocorrências no corpus revelou dois sentidos esquemáticos para a preposição em, derivados do esquema imagético de contêiner: localização e especificação. O primeiro é instanciado em vinte e duas categorias e subcategorias, que representam 86,78% dos usos, sendo oito pertencentes ao domínio espacial, três, ao temporal, e onze, a outros domínios concretos e abstratos. O segundo aparece elaborado em nove subcategorias de especificação diversa, também de domínios concretos e abstratos, que emergem de efeitos funcionais de controle e de suporte. A maior parte da variação em contextos espaciais pôde ser explicada pela perspectivação conceitual e pela relação funcional Contêiner/objeto contido. Os demais usos foram interpretados por meio de processos metafóricos e metonímicos. Na segunda etapa da pesquisa, 48 frases representando categorias obtidas na análise do corpus foram submetidas à avaliação de falantes não-treinados para serem agrupados por semelhança percebida. Cada informante também participou de uma entrevista após a tarefa de classificação, na qual descreveu as estratégias empregadas na sua execução. Utilizando os métodos estatísticos de hierarquia de agrupamentos e Tocher, de análise multidimensional, verificou-se um isomorfismo fraco entre a rede proposta pela pesquisadora e a avaliação dos participantes. Eles perceberam a estrutura relacional da rede e identificaram algumas das categorias menores previstas na análise de corpus, em um total de sete conjuntos de usos. A estrutura relacional da rede se manifesta, por exemplo, na associação de usos locativos e não-locativos em um grupo maior de usos metafóricos, de usos espaciais e não-espaciais em um grupo de localização e vários tipos de especificação (forma, cor, material, especificação abstrata) em uma categoria única mais ampla. Além disso, os sujeitos formaram grupos grandes e pequenos com diferentes índices de coesão interna, o que confirma a granularidade característica dessas redes, ainda que em menor escala, e a coerência das ligações entre as categorias semânticas.

ASSUNTO(S)

lingüística teses. cognição teses. semântica teses. lingua portuguesa preposições teses. gramática cognitiva teses. funcionalismo (linguística) teses.

Documentos Relacionados