Relação entre alterações de linguagem e déficits cognitivos não linguísticos em indivíduos afásicos após acidente vascular encefálico / The relationship between language disorders and non-linguistic cognitive deficits in aphasic individuals post-stroke

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A interface entre a linguagem e demais funções cognitivas tem sido objeto de estudo e a ampla e extensa distribuição dos circuitos neuronais torna o tema bastante complexo. A dificuldade em avaliar o desempenho cognitivo de afásicos faz com que estes pacientes sejam excluídos em estudos que buscam descrever alterações cognitivas após AVE. A avaliação de linguagem, isoladamente, não permite predizer o desempenho em outras habilidades cognitivas. Além disso, o processamento da linguagem se apóia nas habilidades de atenção, memória e funções executivas. A literatura nacional é escassa neste tema. Este trabalho teve como objetivos: avaliar o desempenho dos indivíduos afásicos em tarefas cognitivas não linguísticas (atenção, memória verbal e não verbal, funções executivas e habilidades visuoespaciais), comparar o desempenho dos afásicos e não afásicos nestas tarefas e relacionar o desempenho dos afásicos nas tarefas cognitivas não linguísticas com a gravidade da afasia. Participaram da pesquisa 47 indivíduos, maiores de 18 anos, de ambos os gêneros, com escolaridade mínima de dois anos, e diagnóstico de primeiro episódio de AVE, confirmado por TC de crânio. Aplicada a seguinte bateria de testes: Protocolo de Praxias Gestuais (TBDA), Fluência verbal semântica (animais) e Fonológica (FAS), Teste de Trilhas A e B, Teste de Cancelamento, Aprendizado de Palavras (CERAD), Aprendizado de Figuras (BBRC-Edu), Praxias construtivas (CERAD), Extensão de Dígitos (ED) e Desenho do Relógio (TDR). A amostra foi dividida em três grupos: afásicos (AF, n=21), não afásicos com lesão em hemisfério esquerdo (NAF E, n = 17) e não afásicos com lesão em hemisfério direito (NAF D, n = 9). O grupo de afásicos foi também subdividido em grupos grave (AFg) e leve (AFl). Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos nas provas de Cancelamento, Teste de Trilhas, Praxias Construtivas. Os afásicos apresentaram pior desempenho, em comparação aos grupos NAF E e NAF D, nas provas de fluência semântica, praxias gestuais, ED (ordens direta e inversa), Aprendizado de Palavras, Evocação das Praxias Construtivas (pontuação total), Aprendizado de Figuras e TDR. Na prova de extensão de dígitos, ordem direta, constatou-se pior desempenho do grupo AFg, em comparação ao AFl. Foi encontrada correlação entre a gravidade da afasia e o desempenho no teste de extensão de dígitos em ordem direta (rho=0,860, p=0,0001) e ordem inversa (rho=0,543, p=0,0152), e nas provas de praxias gestuais, especialmente nas praxias bucofaciais e respiratórias (rho=0,708, p=0,016). Constatou-se pior desempenho dos grupos AF e NAF E, em comparação ao grupo NAF D, nas provas de reconhecimento de palavras, Aprendizado de Figuras e TDR. Fatores como prejuízo na expressão oral e hemiparesia interferiram no desempenho dos sujeitos afásicos. A literatura aponta e o estudo confirma que os afásicos demonstram grande variabilidade no desempenho. Mostram-se necessários instrumentos mais adequados para a avaliação das habilidades não linguísticas em afásicos, além de estudos que possam ser replicados em diferentes populações. A avaliação do afásico que não considere somente as habilidades linguísticas, mas também outras funções cognitivas, pode auxiliar na elaboração de planejamentos terapêuticos mais adequados e, aumentar a eficácia da terapia de linguagem

ASSUNTO(S)

acidente cerebral vascular language cognition cognição transtornos cognitivos linguagem cognitive disorders stroke aphasia afasia

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