Redes de comércio justo e solidário : organização, relações e valores / Fair trade networks : organization, relationship and values

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

29/02/2012

RESUMO

As características do sistema econômico dominante e suas implicações sobre a agricultura, ao mesmo tempo em que criam tendências de concentração, padronização e exclusão, também criam oportunidades que podem atuar no sentido contrário, permitindo o desenvolvimento de nichos e diferenciações baseadas em características dos produtos/serviços, dos processos e dos próprios produtores. O Comércio Justo e Solidário emergiu como uma proposta de inserção produtiva para atores com potencial limitado de inserção no mercado convencional visando, além de viabilidade econômica, aspectos qualitativos e dimensões que em geral não são valoradas pelos mecanismos de mercado. A hipótese que orienta este trabalho é a de que, dentro de certos limites, o Comércio Justo e Solidário funciona de forma coerente com seus princípios originais, mas à medida que o aumento da abrangência e escala eleva a complexidade das operações, haverá reflexos na sua organização que podem afastá-lo dos princípios básicos e que podem implicar na exclusão de um grupo relevante de beneficiários potenciais. O presente trabalho busca responder em que medida o Comércio Justo e Solidário pode atender aos seus princípios originais, funcionando com base em redes ampliadas de produtores e comércio. Apoia-se na hipótese de que redes sólidas, compostas por atores com objetivos diversos, mas coerentes e convergentes com os princípios originais, podem garantir a legitimidade de um sistema de Comércio Justo e Solidário. Para isso, busca verificar como algumas redes de Comércio Justo e Solidário certificadas e não certificadas se organizam, enfatizando as relações estabelecidas e os objetivos predominantes dos atores participantes que determinam essas relações. A metodologia baseou-se em pesquisa bibliográfica, entrevistas, observação e análise das redes sociais. Foram entrevistados atores de oito redes de Comércio Justo e Solidário utilizando o método Net-Map Toolbox (SCHIFFER, 2007) para a elaboração de mapas das diferentes relações estabelecidas entre os atores (apoio, subsídios, comerciais, pessoais, conflitos e normas), sua influência e seus objetivos (econômicos, coesão do grupo, desenvolvimento, políticos, exploração e desestruturação). Para a análise da composição das redes e coesão das relações foram utilizados os programas Ucinet (BORGATTI; EVERETT; FREEMAN, 2002) e NetDraw (BORGATTI, 2002) e foram estimadas as densidades. As redes apresentaram desenhos diversos, de difícil comparação, indício da auto-organização que, de acordo com o referencial teórico considerado (OSTROM, 1998), é fator chave para o sucesso da ação coletiva. As principais similaridades apresentadas foram em relação à diversidade de atores em termos de atuação e objetivos, ao predomínio de relações pessoais em relação às demais consideradas, à baixa percepção relativa de conflitos e de relações de normatização. Em geral, as organizações consideradas atuam a favor da reciprocidade, uma vez que as relações pessoais próximas, o compartilhamento de responsabilidades e a descentralização de recursos favorecidos nessas redes tendem a estabelecer a confiança e a reduzir o oportunismo.

ASSUNTO(S)

pequenos produtores agricultura ação coletiva redes de relações sociais farms small colective action networks social

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