Quais recomendações devem ser dadas para pais de crianças portadoras de fenda palatina?
AUTOR(ES)
Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul
FONTE
Núcleo de Telessaúde Rio Grande do Sul
DATA DE PUBLICAÇÃO
12/06/2023
RESUMO
As fendas orais, incluindo a palatina, em vista do seu impacto biopsicossocial e necessidade de tratamento prolongado, requer articulação de uma equipe de saúde multidisciplinar, desde a atenção básica até a média complexidade, visando o acompanhamento e monitoração do crescimento e desenvolvimento da criança, além da prevenção de comorbidades (especialmente otites, anemia, infecções de vias aéreas superiores e pneumonia aspirativa): medicina (pediatras, otorrinolaringologistas e cirurgiões plásticos); genética; odontologia e protética; fonoaudiologia; psicologia, enfermagem; e serviço social. Além da cirurgia para fechamento do lábio, que deve ser feita no período de 2 e 6 meses de vida e a primeira cirurgia do palato, entre 6 e 18 meses de vida (além de outras cirurgias ao longo da infância, dependendo de cada caso), a alimentação (sucção, deglutição, mastigação, respiração, fonação e audição são os maiores desafios para os pacientes, famílias e profissionais de saúde. O cuidado do usuário com a fenda palatina deve ser feito de maneira integrada com os programas existentes de atenção à saúde da criança com garantia de acesso a vacinas especiais, quando necessárias, e ênfase nos cuidados com a alimentação
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O leite materno é o alimento ideal para todos os bebês, incluindo os com fenda oral, devido ao estímulo mecânico para a musculatura da face, língua e mandíbula e vínculo afetivo entre a mãe e a criança(1-4). No entanto, as principais dificuldades do bebê com fenda palatina são relacionadas com a dificuldade de sugar no seio com eficiência porque ocorre inadequada manutenção da pressão intraoral e porque a língua não tem o apoio do palato duro para realizar os movimentos adequados. Além disso, a comunicação entre as cavidades oral e nasal possibilita escape de alimento pelo nariz com risco de aspiração e otites. Mesmo assim, é aconselhável o aleitamento no seio por alguns minutos para reforçar o vínculo afetivo entre mãe-filho. A complementação com leite materno ordenhado poder ser feito por meio de mamadeira
. Ao alimentar o bebê com fissura palatina, procure não deitá-lo, pois o leite poderá refluir para o nariz, mas sempre amamenta-lo em posição inclinada ou sentada. O ganho de peso inadequado, a avaliação e intervenção nutricionais são importantes para determinação da fórmula artificial apropriada, com atenção ao método de diluição, pois o erro no preparo pode causar ganho de peso inadequado(1,2). A suplementação de ferro e o uso de vermífugos devem ser considerados para todos os lactentes que iniciam a alimentação complementar
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Nos casos de necessidades de mamadeiras, as maleáveis são mais eficientes porque permitem ser apertadas pela mãe enquanto o bebê suga, ajudando a entrada do leite na boca e facilitando a mamada. O bico deve ser baseado no comprimento, na flexibilidade, no tamanho do furo e na posição em que se acomoda na cavidade oral, além de custo e facilidade de aquisição; sem esquecer que o melhor bico é aquele que o bebê se adapta: bico comum com bases mais largas acomodam e vedam melhor a fenda durante a mamada; bico longo facilita a ida do leite para a garganta; bico de “Chuquinha”, por ser menor e mais maleável, é uma boa opção; bico ortodôntico, semelhante ao bico do seio materno, tem formato mais favorável ao movimento de sucção; bicos especiais para fenda palatina tem base larga, formato longo e largo. A maior adaptação dos bebês ao bico comum é considerado uma boa alternativa inicial. O aumento do orifício do bico só deve ser feito depois que a criança estiver adaptada à mamadeira, ou seja, quando o bebê demonstrar boa sucção e controle do leite dentro da boca. O aumento do orifício permite o fluxo mais rápido de leite e menor gasto energético na mamada, mas pode favorecer a regurgitação e prejudicar a coordenação das funções orais. O orifício em formato de cruz (+) funciona como uma válvula, permitindo o leite sair da mamadeira somente quando o bebê sugar; evitando o derramamento espontâneo dentro da boca; e minimizando os engasgos. Para determinar o tamanho ideal do furo é preciso observar o volume de leite ingerido pelo bebê, o tempo da mamada, sinais de fadiga durante a mamada e o controle do leite na boca. Engasgos ou regurgitação de leite pelo nariz podem indicar que o furo do bico está muito grande ou que o bebê ainda não tem controle adequado do leite na boca
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A sonda nasogástrica deve ser evitada, exceto em casos com dificuldade em atingir o volume de leite necessário, por via oral, para efetivo ganho ponderal – falência em estabelecer adequado ganho de peso e crescimento quando as demais alternativas já se esgotaram; risco evidente de aspiração ao alimentar a criança; padrão de sucção e de deglutição prejudicados/desorganizados
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Orientações para a alimentação com mamadeira
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· Colocar o bebê em posição semi-sentada durante a alimentação.
· Tentar manter o bico imóvel dentro da boca para que o bebê consiga abocanhá-lo e para que se adapte mais facilmente.
· Pressionar delicada e pausadamente o bico da mamadeira para facilitar o escoamento de leite. A alimentação efetiva pode exigir pressão no bico durante toda a mamada ou pressão a cada 2, 3 ou 5 sucções. Se o bebê mostrar sinais de cansaço as pressões no bico da mamadeira podem ser mais frequentes.
· Interromper a mamada se o bebê mostrar sinais de cansaço e falta de controle do leite, não deglutição ou escape do leite pela boca. Após um breve descanso, recomece a alimentação.
A higiene bucal precisa ser realizada diariamente para remover os restos alimentares e para que a criança se habitue ao manuseio da cavidade bucal, especialmente na região da fenda. A gengiva, bochecha, língua e palato do bebê devem ser limpos com hastes flexíveis de algodão, gaze ou fralda embebida em água fervida, filtrada ou em soro fisiológico. Este procedimento deve ser mantido após a erupção dos dentes
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Os riscos e complicações da fenda oral inclui problemas alimentares que prejudicam a nutrição, o crescimento e o desenvolvimento, distúrbios respiratórios, da fala e da audição, infecções repetidas, alterações odontológicas, problemas emocionais, sociais, educacionais e com a autoestima. Crianças com fendas orais podem apresentar malformações em outras partes do corpo como o cérebro, coração, rins, mãos e pés. Por isso é fundamental que ela seja avaliada por um médico geneticista
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1. Monlleó IL, Mendes LGA, Gil-Da-Silva-Lopes VL. Manual de cuidados de saúde e alimentação da criança com fenda oral. (Org.). Projeto crânio-face Brasil [internet]. [acesso em 27 jan 2022]. 2014:23p. Disponível em:
2. Brasil. Ministério da Saúde. Câmara dos Deputados. Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência – CPD. [internet]. Fissura labiopalatal e fenda palatina. Brasília – DF; [acesso em 27 jan 2022]. 2019:16p. Disponível em:
3. Kassim MJN, Matos FGDOA, Cândido M, da Silva Borges G, Rodrigues LPGDA. Consulta de enfermagem a pacientes com fissuras labiopalatais. [acesso em 27 jan 2022]. REAS. 2021:13(4):e6992. Disponível em:
4. de Oliveira MF, Bandeira AMB. Procedimento terapêutico multiprofissional de pacientes com fissura labiopalatal: relato de experiência. Academus Reva Acad. Rev. Cient. da Saúde 2019:4(1):22-28. Disponível em:
5. Siebra LGB, Gonçalves TO, Guedes ALA, Pinto DN, Teixeira CNG. O tratamento interdisciplinar da fissura palatina no sistema único de saúde. Braz J Hea Rev. 2020;3(3):6213-6227. Disponível em:
ASSUNTO(S)
saúde bucal enfermeiro d20 sinais / sintomas da boca / língua / lábios fissura palatina pais
ACESSO AO ARTIGO
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