Pulsão de morte e racionalidade na teoria freudiana

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

O presente estudo consiste em um exame das implicações da introdução do conceito de pulsão de morte na teoria freudiana, pensada como uma teoria dos atos irracionais. Orienta-se pelo trabalho de Kimmerle (1988) acerca de "Para além do Princípio de Prazer", segundo o qual a pulsão de morte constituiria tão-somente um ponto de convergência de contradições que se acumulariam desde as origens da metapsicologia. Nessa perspectiva, este estudo empreende uma investigação de escritos freudianos de cunho metapsicológico, selecionados no período que abrange desde as formulações pré-psicanalíticas até a apresentação da segunda tópica do aparelho psíquico. Mediante esse percurso, realiza um rastreamento das possíveis contradições intrínsecas ao projeto teórico de Freud e identifica o cerne das aporias da tradição empirista herdada pelo fundador da psicanálise. Mais precisamente, na concepção de que a descrição dos processos psíquicos deve remontar à origem a partir da qual esses processos teriam sido constituídos. À luz dessa concepção, a ordem empírica dos acontecimento originários do psiquismo adquire uma importância fundamental, uma vez que o primeiro evento seria determinante da meta a ser perseguida pelo funcionamento mental. Nesse caos, contrariamente a indistinção proposta por Freud, fugir do desprazer e buscar o prazer constituiriam metas diferenciadas, de tal maneira que a anterioridade da primeira em relação à segunda implicaria a precedência da realidade sobre o prazer. A fim de manter a teses central da psicanálise - a ascendência do inconsciente sobre a consciência - Freud tentaria mostrar que o desprazer associado aos transtornos psicopatológicos remontaria a um prazer anterior, interditado pela repressão. No entanto, ao invés do prazer, a gênese dos processos psíquicos envolveria um desprazer ainda mais originário, o que o faria recuar esse origem cada vez mais, até chegar à formulação da pulsão de morte. Com esta pulsão, a origem do psiquismo seria conduzida para além dos limites da experiência, de onde não seria mais possível recuar. À medida que as contradições são evidenciadas por Freud, conclui-se que seria errôneo supor que a noção de racionalidade subjacente a essa teoria ficaria comprometida a partir da formulação dessa nova pulsão. Antes, essa noção estaria comprometida desde o início, uma vez que não pareceria consistente propor que a racionalidade (consciência) seria fundada sobre uma base psíquica não-racional (o inconsciente)

ASSUNTO(S)

teoria das pulsões razão

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