Proposição de critérios florísticos, estruturais e de produção para o manejo do cerrado sensu strico do Brasil Central

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Inventários e demais estudos fitossociológicos têm contribuído para o conhecimento do cerrado sensu stricto. O desafio está em agrupar e associar as informações para embasar o manejo sustentável. Várias iniciativas no sentido de criar ferramentas para definir, comunicar e avaliar a sustentabilidade dos ecossistemas têm sido empreendidas pela proposição de critérios e indicadores. Este trabalho parte da premissa que padrões florísticos, estruturais e de produção podem embasar o estabelecimento de critérios de sustentabilidade para o manejo do cerrado sensu stricto. E, foi realizado para avaliar a riqueza e parâmetros de produção (densidade, área basal, volume e estoque de carbono) no cerrado sensu stricto, por classe de diâmetro, com vistas a estabelecer critérios para o manejo do Cerrado. Neste estudo, foram utilizados os dados da amostragem em 25 localidades em oito unidades fisiográficas do Brasil Central. Em cada localidade foram amostradas, de modo padronizado, 10 parcelas de 20 x 50 m, totalizando 250 parcelas estudadas. Em cada parcela, todos os indivíduos lenhosos arbóreos, com diâmetro tomado a 30 cm acima do nível do solo igual ou superior 5 cm, foram identificados e suas alturas e diâmetros mensurados. Os dados da amostragem foram processados e organizados por localidade e por unidade fisiográfica. A seguir, os dados foram tabelados por classe de diâmetro, resultando em cinco planilhas, uma para cada indicador (riqueza, densidade, área basal, volume e estoque de carbono) expressos por ha. As médias de densidade e área basal foram testadas por Qui-Quadrado, considerando um valor médio entre elas como o esperado, buscando verificar se as variações entre os valores médios de cada área são significativas ao nível de 95% de probabilidade. As diferenças entre as distribuições diamétricas foram testadas por Kolmogorov-Smirnov para duas amostras a 95% de probabilidade. Foram realizadas simulações de extração com base em propostas de manejo para o cerrado sensu stricto com a retirada 50, 60, 70, 80 e 90% da área basal e de acordo com as propostas de extração formuladas neste estudo: i) cortes baseados nas classes de maior produção de volume e estoque de carbono e na proteção de árvores maduras e de baixa densidade e ii) cortes baseados na proteção de juvenis. Da análise dos padrões de riqueza e dos parâmetros de produção em 25 localidades distribuídas pelo Brasil Central, onde foram mensurados 24.989 indivíduos, verificou-se que a distribuição da riqueza por classe de diâmetro esteve concentrada nas classes de 5 a 11 cm, que contiveram cerca de 90% das espécies lenhosas do cerrado sensu stricto. Quanto à densidade de indivíduos lenhosos por hectare, verificou-se que um intervalo de 1000 a 1400 ind/ha-1 pode ser considerado representativo para o cerrado sensu stricto. em Latossolo e de 400 a 1000 ind/ha-1 para as demais condições nos planos de manejo. A média de 11 localidades apresentaram diferenças significativas quanto à média geral por Qui-Quadrado a 95% de probabilidade, reforçando a sugestão de que algumas áreas, notadamente aquelas em Latossolo, se diferenciaram por estarem acima da média, enquanto que algumas áreas sobre Neossolos Quartzarênicos diferenciaram-se por estarem abaixo da média. As áreas basais no cerrado sensu stricto. concentram-se entre 6 e 12 m2.ha-1, com valores extremos atingindo de 4 a 14 m2.ha-1. Para a área basal, as diferenças não foram significativas, sugerindo a adoção de critérios gerais para o manejo do cerrado sensu stricto com vistas à produção. O volume da parte aérea variou entre 20 e 58 m3.ha-1. O estoque de carbono da parte aérea por localidade variou de 3,71 ton.ha-1 a 13,27 ton.ha-1 e o estoque de carbono total variou de 14,66 ton.ha-1 a 50 ton.ha-1. Os valores obtidos neste estudo representam os patamares de produção em nível regional, sendo que a análise integrada dos indicadores mostra que nas menores classes (5 a 11 cm) encontram-se a maior densidade (74%), riqueza (90%) e grande parte área basal (37%), volume (30%), do estoque de carbono aéreo (25%) e do estoque de carbono total (aéreo + raízes, 26%). Um limite de 29 cm praticamente inclui toda a riqueza, densidade (99%) e produção em área basal (91%), volume (88%) e estoque de carbono (87%) do cerrado sensu stricto. Menos de 1% são os indivíduos e espécies com diâmetros superiores a 30 cm. Na comparação das distribuições pelo teste de Kolmogorov-Smirnov a 95% de probabilidade, as distribuições de área basal por classe de diâmetro não foram significativas, indicando que padrões gerais de intervenções podem ser usados para todas as áreas. Foram realizadas simulações de corte com níveis de 50, 60, 70, 80 e 90% de área basal para atender ao critério da manutenção da diversidade. Para desenvolver critério de sustentabilidade referente à manutenção da riqueza de espécies, estipulou-se um patamar mínimo de área basal que deve ser mantido em cada classe de diâmetro, de modo que pelo menos um indivíduo representante de alguma espécie fosse mantida na classe. Para tanto, propõe-se o uso de um Fator R, onde R é a área basal referente ao limite inferior de cada classe de diâmetro. O racional para a proposição do Fator R neste trabalho é a expectativa de que nos cortes por classe remanesça pelo menos um indivíduo daquele porte que será representante de alguma espécie. Considerando-se o Fator R, que tem como escopo a permanência de indivíduos nas classes de diâmetro, 26 cm seria um limite de corte para a intensidade de 80%. Este nível de extração apresentou um potencial de produção satisfatório, onde a aplicação do Fator R causaria a perda de apenas 22% da área basal mas em contrapartida asseguraria indivíduos remanescentes em todas as classes de diâmetro. Os cortes abaixo deste limite proporcionariam um menor produção, e o de 90% seria muito drástico. Outra proposição quanto a critério de sustentabilidade para proteção da diversidade florística e para a concentração do corte nas classes de maior produção em volume e estoque de carbono seria restringir o corte de todos os indivíduos na menor classe, de 5 a 8 cm de diâmetro, e aplicar corte raso nas classes seguintes protegendo assim os juvenis. Esta classe contém cerca de 80% das espécies por localidade e o corte raso asseguraria uma produção inferior em apenas 16% daquela que seria obtida com o corte raso sem a proteção de juvenis. Quanto ao atendimento dos pressupostos para o manejo sustentável, verifica-se no que se refere à redução dos impactos sobre a integridade biológica, que a opção de estabelecer um limite de corte para a proteção de juvenis ofereceria um estoque regenerativo intacto, enquanto que a opção de corte seletivo por classe de diâmetro com a aplicação do Fator R apenas preservaria parte do estoque em cada classe de tamanho. Esta opção deixaria remanescentes da estrutura original que poderiam ser árvores matrizes, refúgios para polinizadores e dispersores, mantendo assim os mecanismos para manutenção dos processos ecossistêmicos e favorecendo a colheita de produtos não madeireiros. Ambas abordagem, objetivam limitar e controlar a extração madeireira no cerrado sensu stricto. assegurando a sustentabilidade. Estudos sobre regeneração natural devem ser realizados para checar a possibilidade de reduzir o limite para corte com um aumento de produção sem perda de riqueza. Experimentos que apliquem essas prescrições de extração devem ser conduzidos, assim como uma avaliação dos danos da extração.

ASSUNTO(S)

colheita woody extraction madeira savanna volume wood engenharias biodiversidade savana biodiversity carbon carbono volume

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