Promoção da saúde da mulher indígena: contribuição da etnografia das práticas de autoatenção entre os Munduruku do Estado do Amazonas, Brasil
AUTOR(ES)
Dias-Scopel, Raquel Paiva
FONTE
Cad. Saúde Pública
DATA DE PUBLICAÇÃO
19/08/2019
RESUMO
Resumo: A longevidade, a saúde e o bem-estar coletivo e individual figuram entre as expectativas socialmente compartilhadas pelos Munduruku que habitam a Terra Indígena Kwatá-Laranjal, Amazonas, Brasil. A condução da vida diária, em um cosmo pleno de seres, é cercada de perigos que ameaçam essas expectativas, cujas agências podem resultar em doença e morte. A partir de etnografia, conduzida por meio da observação participante e narrativas, analisamos as práticas de autoatenção voltadas à construção do corpo da mulher Munduruku, valorizando a perspectiva e o papel ativo das pessoas “leigas” nesse processo. Essas práticas iniciam-se na gestação e estendem-se ao longo da vida, em um processo contínuo de construção do corpo, manutenção da saúde e aquisição de habilidades, marcado pela interação entre pessoas de diferentes idades. O foco das práticas de atenção Munduruku não é o corpo no sentido dado pelo paradigma biomédico, mas a participação deste, como pessoa, nas relações sociais e cosmológicas, por meio de experiências que articulam corpo, saúde e ambiente. A perspectiva Munduruku sobre esse processo apresenta diferenças radicais em relação ao individualismo moderno e à noção biomédica de corpo excessivamente reducionista. A compreensão da perspectiva indígena contribui para promover melhorias na qualidade da atenção diferenciada, conforme preconizado pela Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.Abstract: Longevity, health, and collective and individual well-being are among the socially shared expectations of the Munduruku people who live on the Kwatá-Laranjal Indian Reservation in Amazonas State, Brazil. Daily life in a cosmos full of beings is surrounded by dangers that threaten these expectations, and whose agencies can result in disease and death. Based on ethnography, through participant observation and narratives, we analyze the self-care practices dedicated to the construction of the Munduruku woman’s body, valuing the perspectives and active role of “lay” persons in this process. These practices begin in pregnancy and extend throughout life in an ongoing process of construction of the body, maintenance of health, and acquisition of skills, marked by interaction between persons of different ages. The focus of Munduruku practices is not the body in the sense determined by the biomedical paradigm, but its participation as a person in social and cosmological relations, through experiences that link body, health, and environment. The Munduruku perspective on this process displays radical differences in relation to modern individualism and the biomedical notion of the body, excessively reductionist. An understanding of the indigenous perspective can help promote improvements in the quality of differentiated care, as recommended by the Brazilian National Healthcare Policy for Indigenous Peoples.
Documentos Relacionados
- Intermedicalidade e protagonismo: a atuação dos agentes indígenas de saúde Munduruku da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, Amazonas, Brasil
- A Cosmopolítica da gestação, do parto e do pós-parto: autoatenção e medicalização entre os índios Munduruku
- Lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho em população indígena do estado do Amazonas, Brasil
- 8. Cultura, sexualidade e saúde indígena: etnografia da prevenção das DST/Aids nos povos Timbira do Maranhão e do Tocantins
- Uso de psicotrópicos entre universitários da área da saúde da Universidade Federal do Amazonas, Brasil