Processo de saúde-adoecimento no trabalho dos professores em ambiente virtual

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Este estudo investiga o processo de saúde-adoecimento dos professores que atuam em ambiente virtual, com base nos referenciais teóricos da psicodinâmica do trabalho e da ergonomia da atividade. São estudados como indicadores desse processo as relações dinâmicas entre trabalho, custo humano, prazer-sofrimento, estratégias para superar o sofrimento e os danos físicos e psicossocias. O trabalho é estudado com base em 3 (três) dimensões: a organização do trabalho, estudada como o conteúdo da tarefa, os controles, prazos, ritmo e tempo; condições de trabalho retratam o ambiente físico e a infra-estrutura; e relações socioprofissionais, que são os modos de gestão e a comunicação. O custo humano são as exigências físicas, cognitivas e afetivas impostas pelo trabalho. O prazer-sofrimento são vivências de realização profissional, liberdade, esgotamento e falta de reconhecimento. As estratégias de mediação podem ser defensivas e de mobilização subjetiva, visam a superação, ressignificação e/ou transformação do custo humano negativo do trabalho e do sofrimento, evitando o surgimento dos danos físicos e psicossocias, e conseqüentemente do adoecimento. A saúde é, então, entendida como resultado do uso bem-sucedido dessas mediações. O estudo foi realizado com professores do ensino superior que realizam o processo de ensino-aprendizagem por meio da Internet. Para a coleta dos dados, foram utilizadas as abordagens quantitativa e qualitativa. Na fase quantitativa, participaram 34 professores de seis instituições de ensino superior. Foi aplicado o ITRA (Inventário de Trabalho e Riscos de Adoecimento), composto por 4 escalas do tipo Likert, com freqüência de 1 a 5: A ECT (Escala de contexto de trabalho), a ECHT (Escala de Custo Humano do Trabalho), a EPST (Escala de Prazer-Sofrimento no Trabalho) e a EDRT (Escala de Danos Relacionados ao Trabalho). Na fase qualitativa, foram realizadas entrevistas com dez professores. A análise dos dados quantitativos foi feita por meio de estatística descritiva e inferencial, através do software SPSS 12.0, e para os dados qualitativos, foi feita a análise de conteúdo categorial temática. Com base nos resultados, foram identificados diversos indicadores do processo saúde-adoecimento. A saúde encontra-se relacionada aos elementos flexíveis da organização do trabalho, a satisfação por trabalharem numa área nova, a liberdade para expressar as características individuais, a cooperação e coleguismo entre os pares, e a relação satisfatória com os alunos. O adoecimento aparece em função da rigidez da organização de trabalho, da ausência da imagem dos alunos, que gera intensa comunicação escrita, da auto-exigência de se fazer presente junto aos alunos, do intenso trabalho com o computador, e das dificuldades com o software de aprendizagem. Identificase que a doença está contida, por um lado, devido ao uso de estratégias defensivas. Entretanto, os professores estão sujeitos ao adoecimento ante o fracasso das mediações e a observância de danos físicos. Os resultados evidenciam que os professores investigados estão sujeitos a contradições na organização do trabalho, que geram prazer e sofrimento ao mesmo tempo, e favorece o uso eficaz das defesas evitando o adoecimento, embora a saúde esteja em risco, em caso de falha no uso dessas defesas. Para futuras pesquisas, sugere-se estudar a configuração do trabalho a distância no Brasil e as doenças que acometem os trabalhadores nesse contexto, e ainda, realizar um mapeamento das categorias profissionais que estão conseguindo pôr em prática a mobilização subjetiva, tendo em vista que este tipo de resistência não tem encontrado espaço nas atuais organizações.

ASSUNTO(S)

estratégias de mediação work trabalho professores pleasure-suffering mediation strategies custo humano psicologia prazer-sofrimento adoecimento professors health illnesses saúde psicologia social e do trabalho human cost

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