Prevalência e fatores associados ao aleitamento materno em Moçambique: estudo de caso de mães usuárias do Centro de Saúde do Distrito de Montepuez, Cabo Delgado

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Vários esforços têm sido empreendidos pela comunidade internacional, pelos governos e organizações que trabalham em prol da saúde materno-infantil para levar a cabo as recomendações estipuladas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Contudo, permanece ainda o desafio tanto para profissionais de saúde, quanto para governo e toda sociedade interessada na promoção da saúde materno-infantil. O presente estudo foi realizado no Centro de Saúde de Montepuez (CSM), na província de Cabo Delgado Moçambique, cujo objetivo é investigar a prevalência e fatores associados à prática do aleitamento materno em mães que usam esse Centro de Saúde. A pesquisa é longitudinal retrospectiva (coorte histórica). A amostra do estudo foi de 399 entrevistadas e a coleta de dados consistiu em entrevista estruturada e decorreu entre fevereiro e maio de 2009, envolvendo crianças cuja idade variava de zero a 24 meses a completar na data da entrevista e suas mães que se deslocaram para o Centro de Saúde no período em estudo. A amostra foi não probabilística. Foi feita análise descritiva para o cálculo de medidas de tendência central e comparação de proporções pelo teste Qui-quadrado para variáveis dicotômicas, com auxílio do software EPI INFO, versão 6.04b. Para o estudo da associação das variáveis explicativas com a duração de Aleitamento Materno Exclusivo (AME), foi utilizada a análise de sobrevida pelo método de Kaplan-Meier, por meio do teste de Log-rank, realizada no programa KMSURV. Nas duas análises foi utilizado o nível de significância de 5%. Para análise do estado nutricional das crianças, foram usados o software AnthroPlus V 3.0.1 e o parâmetro definido pela OMS. Todos os procedimentos éticos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Brasil, bem como os de Moçambique, foram cumpridos. A idade mediana das crianças participantes da pesquisa foi de 7,3 meses, dentre as quais 49,4% eram do sexo masculino. A mediana das mães participantes da pesquisa foi de 23 anos, com 32,8% adolescentes e quase todas participaram do rito de iniciação (99%). Cerca de um quarto das mães eram analfabetas (24,1%). A maioria das mães (84,2%) tinha vínculos com os pais das crianças. A maioria não teve renda no mês anterior à pesquisa (62,7%) e tinha condição socioeconômica deficitária (65,9%). A malária e a diarréia foram às principais doenças mencionadas nas crianças (46% e 28% respectivamente). Aproximadamente um quarto das crianças (24,3%) apresentou baixo peso por idade. O Z-escore médio do indicador peso para idade das crianças foi de -1,06 + 1,47 e das que tinham informações, 20,6% das crianças apresentaram baixo peso ao nascer (<2500g). Apenas 10,8% fizeram consulta pré-natal por cinco ou mais vezes e mais da metade das entrevistadas (55,1%) não recebeu orientações sobre o aleitamento materno (AM) durante a consulta do pré-natal. Em relação ao parto, 33,3% das entrevistadas tiveram partos fora do hospital. Apenas 37,2% receberam orientações sobre amamentação com pessoas que ajudaram a fazer o parto. A prevalência total de aleitamento materno foi de 97,7%. A mediana de duração do aleitamento materno foi de três meses e a prevalência de aleitamento materno exclusivo aos seis meses foi de 25%. Muitas das entrevistadas (44,1%) não souberam informar o tempo ideal para a amamentação. Muitas também não souberam informar as vantagens do AM para as crianças e para elas próprias (41,4% e 98,4% respectivamente). A escolaridade da mãe (P<0,001), vínculo da mãe com o pai (p=0,05), situação de saúde da criança (p=0,02), orientação das mães no pré-natal (p<0,001), local do parto (p<0,001), orientação sobre aleitamento materno com pessoas que ajudaram a fazer o parto (p<0,001), local de permanência da criança logo após o parto (p<0,001), conhecimento do conceito da duração ideal para amamentação (p<0,001), conhecimento das vantagens de amamentação para as crianças (p<0,001) e para as mães (p=0,03) interferiram na duração do aleitamento materno exclusivo. O estudo confirmou que a duração do aleitamento materno exclusivo é influenciada pelos fatores socioeconômico, demográficos, culturais e assistenciais. A inclusão de questões sobre Aleitamento Materno (AM) nos relatórios do Índice Demográfico e de Saúde (IDS) e Inquérito de Indicadores Múltiplos (MICS) como indicador de pré e pós-natal, a promoção de investigação científica sobre AM, a capacitação em AM aos diferentes atores envolvidos na promoção da saúde da criança, incluindo os comunitários e a mídia, e adesão de CSM como Iniciativa Hospital Amigo de Criança (IHAC) podem ser vistos como estratégias para o cumprimento das recomendações da OMS em relação ao AM.

ASSUNTO(S)

aleitamento materno/epidemiologia decs peditria teses. fatores socioeconômicos decs demografia decs dissertações acadêmicas decs

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