Prevalência de discromatopsia nos quilombolas de Monte Alegre de Goiás (Kalungas)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Os Kalungas são descendentes de quilombolas, remanescentes dos quilombos, redutos de ex-escravos de origem africana. Vivem em semi-isolamento, há quase 300 anos, nas regiões rurais das cidades de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás, no nordeste do Estado de Goiás. Vivem da agricultura de subsistência, da criação de pequenos rebanhos e de outras fontes de renda, como aposentadorias e auxílios do governo. Trata-se de comunidade negra que vive em meio rural. É nesta população, de características étno-sócio-culturais próprias, que se propõe avaliar a prevalência de discromatopsia. Perceber cores adequadamente representa uma vantagem ao indivíduo, pois as cores são usadas como códigos de comunicação visual. A deficiência visual para cores é dita discromatopsia que pode ser (i) parcial ou completa; (ii) congênita ou adquirida e (iii) acometer o eixo verde-vermelho ou o azul-amarelo. As discromatopsias congênitas são as mais comuns e os homens são mais acometidos, por se tratar de herança genética ligada ao cromossomo X. A prevalência de discromatopsia é muito variável nos diversos grupos raciais. Nas populações caucasianas, gira em torno de 8,0-9,0% nos homens e 0,4-0,5% nas mulheres. Já em populações negras, as taxas são menores para homens (3,0 - 4,0%) e iguais para as mulheres (menos de 1,0%). Neste trabalho, objetiva-se avaliar a prevalência de discromatopsia nos Kalungas de Monte Alegre de Goiás, utilizando-se os testes Ishihara e H.R.R. Foi realizado mutirão oftalmológico para atendimento dos Kalungas em abril de 2007 em unidade oftalmológica móvel. Foram avaliadas 143 pessoas. Aos que necessitaram, foram doados óculos e colírios. Realizaram os testes de visão cromática 112 Kalungas (12,43% da população total de 901 pessoas): 60 homens (13,07% dos 459 homens) e 52 mulheres (11,76% das 442 mulheres Kalungas), com faixa etária de 4 a 80 anos de idade. A prevalência de discromatopsia foi de 3,33% para os homens (2 dentre os 60 homens) e 0% para as mulheres. A discromatopsia encontrada nos dois indivíduos, que são primos, foi no eixo deutan, de moderada severidade. Esta baixa prevalência é compatível com aquela relatada em trabalhos semelhantes nas populações negras. Para dados ainda mais precisos, sugere-se pesquisa de discromatopsia em amostras com maior número de pessoas, se possível, com estudo genético.

ASSUNTO(S)

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