Preditores de resposta à terapia cognitivo-comportamental em grupo de tempo limitado no transtorno obsessivo-compulsivo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) possui freqüentemente curso crônico, incapacitando cerca de 10% dos seus portadores. Os sintomas interferem de forma acentuada na vida do paciente, alterando suas rotinas e causando incompreensão dos familiares e daqueles que convivem com ele. A terapia cognitivo-comportamental em grupo (TCCG) é um tratamento eficaz, reduzindo os sintomas do TOC em mais de 70% dos portadores, sendo que ao redor de 27% obtêm remissão completa dos sintomas. Entretanto, cerca de 30% não obtêm nenhuma melhora. Conhecer as razões pelas quais esses pacientes não melhoram e identificar os fatores preditores associados ao aproveitamento ou não da terapia poderia auxiliar em uma melhor compreensão do TOC, numa melhor indicação do tratamento e no desenvolvimento de estratégias que incrementem sua eficácia. O presente estudo foi realizado com 181 pacientes com TOC, que cumpriram um programa de TCCG de 12 sessões semanais de 2 horas, entre outubro de 1999 e dezembro de 2006, no Programa de Transtornos de Ansiedade (PROTAN) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e tinha como objetivo verificar, em pacientes portadores de TOC, a existência de fatores preditores da resposta à TCCG.Os pacientes foram avaliados antes, durante e ao final do tratamento com os seguintes instrumentos: Y-BOCS, Y-BOCS chek-list, CGI, WHOQOL-BREF. Foi utilizada uma entrevista clínica estruturada com a finalidade de colher dados sobre os sintomas do paciente, histórico da doença, tratamentos anteriores e estabelecimento do diagnóstico do TOC de acordo com o DSM-IV-TR. Também foram coletados dados demográficos, socioeconômicos, status ocupacional, uso de medicação e critérios deinclusão na pesquisa. A entrevista foi complementada pelo MINI (International Neuropsychiatric Interview) para verificar a presença de comorbidades. Considerou-se como “resposta” a redução no mínimo de 35% nos escores da Y-BOCS e uma pontuação na CGI “normal” ou “limítrofe para doença” do pós para o pré-tratamento. O estudo pretende verificar se as seguintes variáveis: sexo, idade do paciente no início do tratamento, tempo de duração da doença, idade de início da doença, situação conjugal, nível de instrução, situação ocupacional, tipo de início da doença, curso, intensidade dos sintomas do TOC no início do tratamento, juízo crítico, história familiar, tipos de sintomas, uso de medicação específica para o TOC concomitante à TCCG estão associadas ou não com a resposta ao tratamento. Para avaliar a associação entre as variáveis categóricas à resposta ao tratamento, foi utilizado o teste qui-quadrado de Pearson. Nas variáveis dicotômicas foi aplicada a correção de Yates. Para avaliar as variáveis quantitativas em relação às categorias de resposta ao tratamento, foi utilizado o teste t de Student para amostras independentes. As variáveis que obtiveram um nível descritivo amostral (valor p) menor do que 0,25 foram inseridas no modelo de regressão logística múltipla.Fatores associados com uma melhor resposta à TCCG: sexo feminino (p=0,074); melhor juízo crítico acerca dos sintomas da doença (p=0,017); melhor qualidade de vida antes do início do tratamento: domínio físico (p=0,039), domínio psicológico (p<0,001), domínio ambiental (p=0,038), domínio social (p=0,053). Fatores associados com piores resultados: maior gravidade global da doença no início do tratamento, avaliada pela CGI (p=0,007); maior número de comorbidades associadas ao TOC (p=0,063); presença de fobia social (p=0,044) e distimia (p=0,072); presença de compulsão de repetição (p=0,104).Numa segunda etapa da análise estatística, incluiu-se no modelo todas as variáveis que na primeira fase haviam apresentado associação com os resultados. As variáveis que na análise de regressão logística múltipla permaneceram associadas significativamente foram: sexo feminino (ORAjustado=2,58; p=0,021); domínio psicológico da WHOQOLBREF (ORAjustado=1,05; p=0,011); juízo crítico (ORAjustado=2,67; p=0,042) e CGI-gravidade antes do inicio da terapia (ORAjustado=0,62; p=0,045). Embora alguns fatores relacionados com a resposta ao tratamento tenham sido identificados, poder prever quais os pacientes irão aproveitar a terapia e quais não irão se beneficiar é uma questão em aberto e está longe de ser esclarecida. As razões para essas dificuldades podem estar relacionadas à heterogeneidade do TOC e das amostras utilizadas nos diferentes estudos, além da falta de padronização das técnicas psicoterápicas utilizadas. Por fim, é possível que fatores não-específicos relacionados com a pessoa do terapeuta, com a qualidade da relação terapêutica, além da motivação e capacidade de tolerar frustração por parte do paciente possam exercer um papel importante que não tem sido avaliado pelas pesquisas.

ASSUNTO(S)

obsessive-compulsive disorder terapia comportamental cognitiva transtorno obsessivo-compulsivo response predictors terapia cognitiva cognitive-behavioral therapy response to treatment transtornos da ansiedade group therapy

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