Práticas de leitura em uma sala de aula da Escola do Assentamento: educação do Campo em construção

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo geral compreender as práticas de leitura em uma sala de aula de uma Escola do Assentamento de reforma agrária organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), situado na região do Vale do Rio Doce, Minas Gerais. Esse interesse advém da importância cada vez maior de estudos sobre práticas de letramento (STREET, 1984; BRANDT, 2002; KLEIMAN, 1995; GOULART, 2006) como parte de um processo de compreensão da relação educação, linguagem e escrita (SOARES, 1996, 1998; GNERRE, 1987) articulando a relação escolarização, camadas populares e escrita. Nesse quadro, o MST ao longo de seus 25 anos (CALDART, 2004; RIBEIRO, 2002; VENDRAMINI, 2009) e o seu protagonismo ao lado de outros movimentos sociais, nestes últimos 10 anos, colocaram no cenário nacional a Educação do Campo, re-significando a si mesmos enquanto sujeitos coletivos, assumindo o campo como espaço histórico de disputa da terra e da educação (CALDART, 2004; ARROYO, 2004; FERNANDES &MOLINA, 2004; RIBEIRO, 2007). Nesse contexto, justifica-se a necessidade de pesquisas que tomem como objeto a prática educativa formal, interrogando-se sobre as práticas de letramento em construção na sala de aula. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de campo a partir de referenciais metodológicos da etnografia (HEATH, 1982 e 1983; da noção de apropriação (CHARTIER, 1990) e de enunciação (BAKHTIN, 1995 e 2006) em diálogo com estudos no campo da história da leitura na escola (CHARTIER, 2004 e 2007; VIDAL, 1998) e das práticas de letramento em sala de aula (ALBUQUERQUE, 2002; MACEDO, 2005) que orientaram a análise dos eventos de leitura, definidos a partir do conceito de eventos de letramento de Heath (1982 e 1983) retomados aqui no Brasil por Kleiman (1995) e Marinho (2007), o que evidenciou um conjunto de eventos com textos literários em distinção a um conjunto de textos não-literários, o que mostrou o valor do letramento literário (PAULINO, 2001) para esta turma. A materialidade dos textos, os modos de ler, as interações entre professora e alunos mediadas pelos textos e as crenças sobre a leitura (ROCKWELL, 2001), constitutivos desses eventos de leitura, evidenciaram nas práticas de letramento em construção a relação dialética entre o contexto local e o global, entre a oralidade e a escrita, entre o estado e o movimento social. Indicaram também a necessidade de se assumir, na compreensão das práticas de letramento em construção em salas de aula de Escola de Assentamento, a tensão entre, de um lado, estado/escolarização/cultura escolar/escrita, relação própria de um projeto de sociedade construído e defendido nestes últimos cem anos no contexto brasileiro, um modelo de letramento mais universal, e de outro, a apropriação escrita/oralidade/escolarização/movimento social, relação identificada em sala de aula e que precisa ser fortalecida, refletida e ampliada em um projeto de educação que confronte saberes e valores sociais estabelecidos como a Educação do Campo, em seu diálogo com a Pedagogia do MST e a Educação Popular.

ASSUNTO(S)

educação teses. leitura teses. educação rural teses. letramento teses.

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