Política e sentidos da palavra preconceito : uma história no pensamento social brasileiro na primeira metade do Século XX / Politics and sense of the word prejudice : a history in the brazilian social thought in the first middle of twenty century

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

13/05/2011

RESUMO

Na escrita de quatro importantes obras das Ciências Sociais do início do século XX, a palavra preconceito adquire sentidos específicos em cada uma delas, sentidos constituídos no funcionamento enunciativo, que é político e histórico. Nossa tese se inscreve na área da Semântica do Acontecimento na qual a análise de sentidos é considerada a partir do acontecimento enunciativo (GUIMARÃES, 2002). Também, são mobilizados alguns conceitos da Análise de Discurso francesa, a partir de trabalhos de Pêcheux (1975; 1988) e Orlandi (1994; 1999). Esta abordagem nos possibilita observar como os autores dessas obras, na primeira metade do século XX, compreendem as relações sociais na construção de um conhecimento sobre a nossa sociedade que serviria de referência para a produção científica que viria depois. Nosso objetivo foi analisar as designações da palavra preconceito nas obras: A evolução do povo brasileiro (1923), de Oliveira Vianna; Casagrande e Senzala (1933), de Gilberto Freyre; Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda; e Formação do Brasil Contemporâneo (1942), de Caio Prado Júnior. Estas obras abrangem um período de transformação do Brasil, momento em que havia a preocupação do Estado, da elite no poder, dos intelectuais, com as mudanças sociais, econômicas e políticas. Há, assim, nesses textos, uma busca em se compreender os problemas e a formação da sociedade do Brasil do início do século XX. E, na medida em que os autores vão descrevendo as relações sociais, a palavra vai sendo significada. Observando as reescrituras e as articulações que constituem os diferentes domínios semânticos dessa palavra, vemos que os sentidos que circulam nas obras são eufemizados, naturalizados, apagados. E, com isso, na descrição da sociedade brasileira compreendemos que o funcionamento político da enunciação produz sentidos diversos, divididos, contraditórios para a palavra preconceito. No espaço de enunciação científico que essas obras configuram, aquilo que preconceito significa é dado como uma evidência, sendo que a palavra é raramente reescrita por uma definição. Mas, através das análises, vemos que em cada obra a palavra preconceito tem designações diferentes. Assim, além do sentido etimológico "ideia preconcebida", outras reescrituras e articulações vão determinando os sentidos dessa palavra e cada obra tem sentidos específicos que se modificam na relação com as diferentes discursividades que agenciam os locutores-cientistas. É assim que, em uma mesma obra, preconceito pode significar o erro de se supor a identidade, lugar do qual o locutor-cientista se distancia e, ao mesmo tempo, o locutor é agenciado por sentidos que fazem parte de uma teoria biologizante e que se configuram como preconceito racial, sendo que este tipo de preconceito não faz parte do domínio semântico da palavra nessa obra, mas que vai fazer parte dos domínios semânticos das outras obras, pois os outros autores falam deste preconceito ao descreverem a sociedade. Além disso, outros sentidos também circulam para a palavra preconceito, tais como o sentido de discriminação, de exclusão, de opressão, etc., e, desse modo, podemos compreender a instabilidade e a divisão dos sentidos dessa palavra que circula, na maioria das vezes, sob a evidência do sentido etimológico.

ASSUNTO(S)

semântica semantica do acontecimento preconceito ciências socias político semantics semantic of events prejudice social science political

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