Poetopos: cidade, código e criação errante

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A tese verifica criações levadas a efeito por errantes em Belo Horizonte, que compõem linguagens em extrema oposição à linguagem pronunciada pela cidade. Rememore-se que a Capital de Minas foi constituída pelo Estado, a partir de rígidos códigos espaciais e estéticos, extraídos dos princípios positivistas de superação do Natural pela Ordem e para o Progresso, em função de confirmar a República e conformar a nacionalidade. A fundação in toto de uma cidade, procedimento inédito no Brasil, pretendeu marcar a passagem do país para a condição plena de nação pós-colonial. Sob indicação do orientador, o Professor Maurício Salles Vasconcelos, a tese recebeu a co-orientação do Professor Iain Chambers, do Departamento de Estudos Americanos, Culturais e Linguísticos da Universitá degli Studi di Napoli - "L Orientale", em bolsa concedida pela Capes. Ganhou reforço na consideração dos impactos da contingência racionalista e nacionalista da concepção da cidade e estímulo para a busca de repercussões na literatura da época. A estada em Nápoles ensejou a identificação da cidade, definida por Asja Lacis e Walter Benjamin no texto Nápoles pela porosidade, como um espaço liso e nomádico, configuração antitética, portanto, ao espaço estriado do logos belorizontino. Essa caracterização, apoiada nos conceitos do Tratado de Nomadologia de Gilles Deleuze e Felix Guattari, foi de grande valor na montagem do estudo, carente de antecedentes específicos. Com base nos conhecimentos incorporados na experiência intelectiva e sensorial napolitana, inverte-se o enfoque inicial da tese e verifica-se a presença estranha da cidade - em função diferente da habitual, de emprestar cenário a eventos, personagens e ações de um enredo - no primeiro romance aqui produzido, sintoma da coerção do Estado, em momento, tema e forma. A construção arquitetônica desse romance mostrou a literatura como instrumento imediato de transgressão dos limites que, sem apelo, haviam sido aqui impostos: a destruição do arraial existente e o constrangimento da população. Ao passo, foram identificados, em segundo tempo de forte intervenção estatal local, então no nível da formação das mentalidades, a década de 1930, três romances em insólitas relações com a cidade. E encontrou-se surpreendente paralelismo formal da poética do errante com uma poética produzida na cidade ao princípio dos anos 1960, limiar do período de exceção, poética que, problematizando e integrando a forma, arrostou os códigos oficiais em corrosivo arremedo. Abrem-se, assim, em simultaneidade, a Cidade/Livro do Estado/Autor, a Cidade/Livro do Cidadão/Autor e a Cidade/Livro do Não-Cidadão/Livre Criador. A tese prova a existência de uma categoria literária em fricção com a cidade, suscitada pela origem desta na interioridade do Estado, e o confronto especular - em que isto signifique visão invertida, superficial e intransponível - de uma poética sedentária insurgente com uma poética nomádica contingente.

ASSUNTO(S)

planejamento urbano teses. arquitetura e literatura teses. arte e literatura teses. belo horizonte (mg) teses. nápolis (itália) teses.

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