Poesia e diálogos numa ilha chamada Brasil / Poetry and dialogues on an island called Brazil

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

27/08/2012

RESUMO

A veiculação de uma perspectiva comunitária voltada para a aproximação/integração dos países latino-americanos recebeu destacada importância nas produções culturais brasileiras das décadas de 1960 e 1970. Especialmente no âmbito das manifestações artísticas, novas articulações em torno de uma identidade latino-americana surgiam na pauta dos debates político-culturais. A partir deste contexto, o presente trabalho visa refletir sobre a importância do ideal americanista para a poesia brasileira do período, dando destaque à produção poética de Ferreira Gullar e Thiago de Mello. A escolha por estes dois autores justifica-se pela intensidade e dramaticidade com que suas obras encarnaram as esperanças e contradições da época, tanto no que se refere aos dilemas formais inerentes a uma concepção poética disposta a atuar politicamente na realidade social, transformando-a, como no espaço que oferecem à representação de uma união solidária entre os países da América Latina. A partir da leitura de seus poemas buscamos matizar a posição da fulguração americanista dentro de um projeto político e estético mais amplo, bem como os lugarescomuns que acompanham sua concretização formal. Damos especial atenção aos eventos e personagens que, a nosso ver, catalisam o viés comunitário daquele período, tornando-se protagonistas de vários poemas e confundindo-se simbolicamente com o próprio desejo de aproximação solidária: a Revolução Cubana, a celebridade de Pablo Neruda e Che Guevara e o exílio dos poetas brasileiros em países da América Latina, destacadamente no Chile de Allende, onde testemunharam a euforia construtiva e a frustração traumática do projeto socialista. Por fim, propomos um balanço crítico das limitações desta tendência, sem desconsiderar a importância de tais ensaios supranacionais em um país pouco sensível ao diálogo com culturas e sociedades afins, como tem confirmado a história brasileira. Encerramos a pesquisa vasculhando os escombros do discurso americanista nas obras mais recentes dos poetas De uma vez por todas (1996) e Campo de Milagres (1998), de Thiago de Mello, e Muitas Vozes (1999) e Em alguma parte alguma (2010) de Ferreira Gullar publicadas na última década do último século e na primeira do século corrente. Num contexto marcado pela consolidação da chamada globalização neoliberal e de crise dos discursos utópicos que sustentavam a aspiração comunitária procuramos identificar e examinar novos arranjos discursivos e, a partir deles, sugerir o lugar (ou não-lugar) da América Latina no rol de preocupações da poesia brasileira contemporânea.

ASSUNTO(S)

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