Pixação : arte e pedagogia como crime / Pixação : at and pedagogy as a crime

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

É possível uma juventude periferizada e criminosa ser encantadora, apaixonante? É possível se pensar esta mesma juventude cotidianamente em situação de fuga, como produtora de fervilhantes estéticas, reverberadora de vozes afirmativas, que amplificam e exibem, diante de nossos narizes, espancadas nas superfícies visuais de nossas cidades, significativas contradições e dissonâncias flagrantes de boa parte dos desafios urgentes para nossa sociedade fragmentada? Esta pesquisa, portanto, se mostrando, logo de cara, nada imparcial, propõe uma aventura intelectual cheia de ousadias, e por que não, crimes, que sugerem, mesmo que nada educadamente, respostas afirmativas a estas perguntas. Para tanto, mergulhei, e, de repente, me vi envolvido, contaminado por uma meninada que escolheu a piXaÇÃo como forma de espancar pelos muros, topos, marquises, pedras, janelas, ou melhor, pela superfície das cidades, a sua existência, gritando em fetiches visuais, sua condição nada anônima, que, não só habita, mas assina e registra à tinta spray, um projeto de cidade, em grande parte, anonimador. A cidade, aparentemente a contra gosto, veste este seu inescapável jeitão contemporâneo, em outras palavras, nada maquiado, em sintonia com os frangalhos, ruínas e imperfeições que nos constituem. Juventude criminosa reencantadora de projetos civilizatórios falidos? Quanta ironia! Ar respirável pela coragem! Vejo, portanto, a produção estética como condição para a existência humana, como maneira de amenizar as misérias de um vazio contemporâneo, como elemento reencantador de um mundo contaminado por um fetiche UNO metafísico. Tudo isso por uma vida mais fruível, prazerosa. piXaÇÃo, então, como uma entre as produções juvenis contemporâneas que, mesmo em sua farda condição periferizada, habitantes dos locais não só geograficamente, mas também, simbolicamente invisibilizados, nomademente, com toda audácia e indisciplina, atravessam esta cidade que, pelo que aparenta, não foi projetada para elas. Seres inesperados, bem-humorados, habilidosos na arte de não serem pegos, nem ligando para tudo isso, fervilhantes flagrantes de que nosso histórico projeto civilizatório, pautado em morais eurorreferenciadas, grosso modo, cristãs, não dão mais conta, se é que um dia deram. Polifonia urbana evidente, sem saber muito bem o que é crime e o que é arte, outras cidades, outras juventudes, outras estéticas. E eu vou por aí, em risco de vida.

ASSUNTO(S)

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