Physical maltreatment of children: contributions to the evaluation of psychosocial risk factors / Maus-tratos físicos de crianças: contribuições para a avaliação de fatores de risco psicossociais

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Sabe-se que o fenômeno dos maus-tratos se constitui em uma problemática complexa que envolve na sua etiologia vários fatores, sendo necessária a observação deste fenômeno por uma perspectiva multidimensional. A abordagem Ecológico-Sistêmica do desenvolvimento humano e o modelo teórico Transacional pressupõem, respectivamente, a existência de diversos contextos e variáveis de risco que se influenciam mutuamente para a produção dos maus-tratos. Dentro disto, numerosas pesquisas, principalmente no âmbito internacional, têm encontrado associação significativa entre a problemática dos maus-tratos e variáveis no nível ontogenético, no microssistema, e no exossistema, dispondo-se inclusive de um conhecimento quanto às especificidades referentes a cada tipo de maus-tratos em particular. Neste panorama, o presente trabalho teve como objetivo verificar se a associação entre determinados fatores de risco atinentes à figura do cuidador e os maus-tratos físicos seria encontrada na realidade brasileira. Vale destacar que os fatores priorizados no estudo referem-se a aspectos psicológicos, como a angústia, nível de estresse associado à função parental, nível de apoio social, estilo parental e histórico de maus-tratos na própria infância. Para tanto, comparou-se dois grupos de pais/cuidadores, sendo um notificado ao Conselho Tutelar devido a abusos físicos contra os filhos (Grupo Clínico) e outro sem histórico conhecido de abuso (Grupo de Comparação), ambos constituídos por trinta participantes (n=60), pareados entre si em características sócio-demográficas, como nível econômico e educacional, situação conjugal e número de filhos / crianças sob seus cuidados. O primeiro grupo foi recrutado a partir dos registros do Conselho Tutelar e o segundo foi composto por conveniência, a partir de indicações, na comunidade. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados tiveram a função de avaliar um ou mais fatores de risco, sendo eles: o Child Abuse Potential Inventory CAP; o Índice de Estresse Parental ISP; o Inventário de Estilos Parentais IEP; o Questionário de Apoio Social - QAS e a Entrevista da História da Infância do Adulto. É necessário sublinhar que também foi utilizado um Questionário de Caracterização Sócio-demográfica, sendo que os dados coletados com este instrumento permitiam caracterizar os respondentes para proceder à equiparação dos grupos, mas também levantar algumas informações referentes a variáveis de risco no plano sócio-demográfico. Cada instrumento foi corrigido segundo seus próprios critérios, sendo que os dados obtidos puderam ser categorizados e comparados estatisticamente por meio do teste t de Student para amostras independentes ou Mann Whitney Rank Sum Test, quando necessário. Os dados obtidos com a História da Infância do Adulto foram, primeiramente, analisados descritivamente, por meio da obtenção de freqüências e porcentagens e, quando possível, utilizou-se o teste Qui-quadrado ou o teste Exato de Fisher, para também comparar estatisticamente os grupos, adotando-se como nível de significância p 0,05. Os resultados encontrados indicaram diferenças significativas (p<0,05) entre os grupos para a maioria das dimensões que compõem a Escala de Abuso do CAP: angústia, rigidez, problemas com a criança e consigo e problemas com os outros, verificando-se um maior potencial de risco para os participantes do grupo clínico em relação ao grupo de comparação. Quanto ao ISP, os grupos apresentaram diferenças em relação à dimensão características da criança e no escore total, indicando que o grupo clínico vive mais estresse nas interações com a criança do que o grupo de comparação. No IEP os grupos se diferenciaram somente na dimensão monitoria positiva, denotando que o grupo clínico emprega com menos freqüência práticas positivas na educação dos filhos que o grupo de comparação. O QAS diferenciou os grupos nas dimensões de apoio afetivo, de interação social positiva e no escore total, apontando também que os participantes do grupo clínico se percebem com menos apoio social do que o grupo de comparação. A análise da História da Infância indicou que de forma geral, os adultos pertencentes ao grupo clínico viveram mais situações difíceis na infância que o grupo de comparação, sendo que estas, por vezes, se configuraram em situações de maus-tratos. Os grupos se diferenciaram também no que se refere a duas variáveis sócio-demográficas específicas: a idade do responsável por ocasião do nascimento do primeiro filho e o grau de satisfação com o bairro, denotando que os participantes do grupo clínico eram mais jovens que os do grupo de comparação por ocasião do nascimento do primeiro filho, tendo em média 19 anos, e que também eram mais insatisfeitos com o local de moradia que os do grupo de comparação. Os resultados permitem dizer que as variáveis que discriminam os dois grupos compõem indicadores de risco para os maus-tratos físicos em nosso contexto sócio-cultural, corroborando o que é apresentado na literatura científica, quanto aos fatores que reiteradamente têm se mostrado associados ao problema no âmbito internacional. Todos eles, tomados em separado ou conjuntamente, podem servir para orientar o desenvolvimento e a avaliação de programas de prevenção primária e/ou secundária, na comunidade.

ASSUNTO(S)

fatores de risco avaliação risk factors maus-tratos infância abuso físico maltreatment evaluation infancy physical abuse

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