Petrologia do magmatismo tardi-brasiliano no Maciço São José de Campestre(RN/PB), com ênfase no Plúton Alcalino Caxexa

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2000

RESUMO

A área estudada localiza-se na extremidade nordeste da Província Borborema, no denominado Maciço São José de Campestre (RN e PB). Relações de campo e dados petrográficos, geoquímicos e isotópicos permitem individualizar cinco suítes distintas de rochas plutônicas representados por: álcali-feldspato granito (Plúton Caxexa), que constitui o principal alvo desta dissertação, anfibólio-biotita granito (Plúton Cabeçudo), biotita microgranito, gabronorito a monzonito (Suíte Básica a Intermediária) e granitóide aluminoso. O Plúton Caxexa está lateralmente associado a Zona de Cisalhamento Remígio-Pocinhos, alojado ao longo da interface milonítica entre o substrato gnáissico e os micaxistos. Este plúton corresponde a uma intrusão sintectônica alongada na direção N-S, com cerca de 50 km2 de superfície aflorante. Ele é formado exclusivamente por álcali-feldspato granitos, tendo como minerais acessórios clinopiroxênio (aegirina-augita e hedenbergita), granada (andradita), titanita e magnetita. Quimicamente, classificam-se como rochas alcalinas de alta sílica (>70% em peso), metaluminosas a fracamente peraluminosas (coríndon normativo <1%), com altos valores de Na2O+K2O (>10%), Sr, razões de #Fe (90-98) e índice agpaítico (0,86-1,00), e anomalia positiva de Eu. O Plúton Cabeçudo compõe-se de rochas com textura porfirítica, comumente contendo enclaves magmáticos de composição básica a intermediária, mostrando feições do tipo mingling e mixing. Petrograficamente, é constituído por fenocristais de k-feldspato e plagioclásio como minerais essenciais, além de anfibólio, biotita, titanita e magnetita como acessórios. Quimicamente, mostra características metaluminosas e afinidade com rochas transicionais cálcio-alcalina e alcalina (subalcalina monzonítica). Apresentam espectros de terras raras com anomalia negativa de Eu e conteúdos de terras raras leves e pesadas mais elevados do que as rochas do Plúton Caxexa e do microgranito. Os microgranitos ocorrem predominantemente na porção centro-leste, sob a forma de diques e soleiras, com espessura decimétrica, alojados principalmente nas ortoderivadas e com menor freqüência nos micaxistos. Seu posicionamento tardio com relação às demais plutônicas é evidenciado através de diques encaixados em rochas dos plútons Caxexa e Cabeçudo. Petrograficamente, são biotita granitos, contendo também titanita, anfibólio, allanita, opacos e zircão como minerais acessórios. Quimicamente, diferem das rochas porfiríticas, por serem peraluminosas, mais evoluídas, e terem espectros de terras raras mais fracionados. As rochas básicas a intermediárias ocorrem como um grande corpo elíptico de direção NE-SW, na parte SE da área, bem como soleiras em micaxistos. Modalmente, são gabronoritos a monzonitos, contendo os dois piroxênios e biotita como minerais máficos mais freqüentes, além de anfibólio, titanita, ilmenita e allanita. Essas rochas mostram um comportamento químico que não se adequa nem às séries cálcio-alcalinas típicas, nem às alcalinas, podendo representar possivelmente uma série monzonítica (shoshonítica). Os espectros de terras raras possuem anomalia negativa de Eu menos pronunciada e conteúdos de terras raras maiores do que nas outras suítes. Os granitóides aluminosos são volumetricamente restritos, sendo identificados através da forte migmatização em micaxistos que bordejam a suíte básica a intermediária, destacando-se alguns corpos na porção sul da área. Mineralogicamente, são identificados granada, andaluzita, biotita e muscovita, sendo a suíte de característica geoquímica peraluminosa. Dados isotópicos de Rb-Sr [rocha total (RT)] e Sm-Nd (RT + mineral) permitem estimar a idade mínima de cristalização (57814 Ma) e a idade de fechamento final do sistema Rb-Sr (5364 Ma) para o Plúton Caxexa. Os granitóides aluminosos possuem idade Sm-Nd (rocha total + mineral) semelhante a do Plúton Caxexa, com valor de 57467 Ma. A forte interação de bandas de cisalhamento e diques pegmatíticos, facilitou a abertura do sistema Rb-Sr, impossibilitando a obtenção de idades geocronológicas para o Plúton Cabeçudo e o microgranito. Dados termobarométricos utilizando o geotermômetro anfibólio-plagioclásio e geobarômetro do Al em anfibólio indicam condições mínimas de 560C e 7 kbar para o Plúton Cabeçudo, 730C e 6 kbar para o microgranito e 743C e 5 kbar para a suíte básica a intermediária. O geotermômetro de Zr mostra temperaturas mais elevadas, de 855C, 812C e 957C, respectivamente, para aquelas suítes, enquanto o Plúton Caxexa apresenta temperaturas da ordem de 757C. Os plútons Caxexa, Cabeçudo e microgranito cristalizaram-se sob condições de alta fugacidade de oxigênio (presença de magnetita). Por outro lado, a ocorrência de ilmenita na suíte básica a intermediária indica condições menos oxidantes para a sua evolução. Relações de campo demonstram o caráter intrusivo dos granitóides em uma crosta continental já relativamente estabilizada. Isto é comprovado por dados petrográficos e geoquímicos, que sugerem um contexto tectônico tardi- ou pós-colisional. Interpreta-se, daí, a geração e posicionamento das suítes granitóides durante os eventos tardios da orogênese brasiliana. Finalmente, o confronte de eNd (600 Ma), TDM e razões isotópicas iniciais de estrôncio (ISr) não permitem definir a(s) fonte(s) adequada(s) dentre as unidades crustais do substrato gnáissico atualmente aflorante no MSJC. Ensaios preliminares levando em conta a relação Rb/Sr vs. Sr deixam em aberto a possibilidade do manto metassomatisado (enriquecido em TRL, Ba, Sr, Zr) ter sido uma das fontes principais, contaminada em diferentes proporções (menor na básica a intermediária) por material da crosta continental. Desta forma, um manto enriquecido não seria uma particularidade da litosfera neoproterozóica, mas uma característica marcante da porção nordeste da Província Borborema desde o Arqueano e o Paleoproterozóico.

ASSUNTO(S)

petrologia geoquímica granióídes granito alcalino orogênese berasileana petrologia

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