Petróleo no Brasil do século XX: Dependência energética na Segunda Guerra Mundial

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Varia hist.

DATA DE PUBLICAÇÃO

2018-08

RESUMO

Resumo Muitos estudiosos consideram o início da Grande Aceleração em meados do século 20 como tendo "iniciado o Antropoceno" (McNeill; Engelke, 2016, p.7). A marca mais visível para tal reivindicação é o uso em larga escala de combustíveis fósseis. Estritamente ligada a isso, é uma ideia da modernidade e de progresso material que moldou o uso e o significado atribuído a essas fontes de energia. Foi nesse contexto mais amplo que, em agosto de 1942, o Brasil se juntou às Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial. Parte do acordo foi que os EUA ajudariam a desenvolver indústrias pesadas no país, principalmente aço e petróleo. Na época, cerca de 90% do petróleo do Brasil era importado dos EUA, fato que teve impacto direto no cenário petrolífero do país. O esforço de guerra significou que o combustível foi redirecionado para o uso militar, o que gerou grandes restrições ao consumo civil. Em face à escassez, milhares de brasileiros escreveram ao Conselho Nacional do Petróleo para solicitar cotas de combustível e licenças de trânsito. Ao fazê-lo, eles também compartilhavam as razões pelas quais precisavam de gasolina, diesel, querosene e outros produtos petrolíferos. Essas cartas fornecem informações valiosas para a superfície social brasileira do período, sobre como as pessoas usavam diferentes produtos petrolíferos e os significados de progresso e modernidade que atribuíram ao acesso e ao consumo de tais produtos. Através de suas palavras, podemos visualizar o país em um momento de transição para a modernidade industrial, deixando para trás a chamada "vocação agrícola", que foi o principal rótulo do Brasil do século 19 até o início do século XX. Brasileiros, tanto em centros urbanos quanto em locais remotos, não queriam se afastar dos ganhos representados pela velocidade de seus veículos, os produtos de suas máquinas industriais, o conforto de seus aparelhos. A Grande Aceleração havia chegado e a desaceleração parecia evadir-se da civilização. A modernidade e o progresso são materializados na forma da primeira geladeira para chegar a uma cidade remota, a segunda motocicleta registrada na Amazônia, o caminhão de mudança rapidamente atravessando fronteiras estaduais. Carros, motocicletas, caminhões, máquinas a diesel estavam disponíveis a apenas uma ou duas gerações, mas já eram vistas como essenciais. É um momento que marca a profunda dependência fóssil que sustenta esse ideal de modernidade - conectando, no mesmo arco, atividade e criatividade humana, o uso de máquinas e combustíveis fósseis, vistos como indispensáveis para trazer o progresso desejado a uma nação moderna.

ASSUNTO(S)

história ambiental história do petróleo grande aceleração

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