Pesca, etnoictiologia e biologia de peixes no sul do Brasil

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A ecologia humana analisa as relações entre populações humanas e os recursos naturais e pode gerar informações úteis para o manejo das atividades de pesca em áreas costeiras. Este estudo foi realizado nos anos de 2007 e 2008 em duas comunidades de pescadores do litoral sul do Brasil, localizadas nas praias da Guarda do Embaú (GE) e Pinheira (PP), no estado de Santa Catarina. Os principais objetivos deste estudo foram: analisar as estratégias de pesca e as interações entre diferentes grupos humanos nas atividades da pesca artesanal de subsistência; identificar as decisões e estratégias utilizadas pelos pescadores na pesca artesanal comercial e registrar o conhecimento ecológico local (CEL) dos pescadores de duas comunidades sobre os peixes, comparando-o com o conhecimento científico e comparando o CEL entre as comunidades. Na praia da GE foi registrado o número de pescadores e obtidas as seguintes variáveis da pesca através de entrevistas realizadas com estes pescadores: procedência, atividade econômica, petrechos e técnicas utilizadas, tempo gasto pescando e pontos de pesca utilizados, além da composição e biomassa de peixes capturados. Na época de migração de tainhas e paratis (Mugil platanus e M. curema), pescadores locais e ocasionais (de outras regiões) intensificaram a atividade da pesca, registrando um maior rendimento pesqueiro. As técnicas de pesca (espía e sarraio utilizadas com tarrafas e a vara de pesca) utilizadas pelos pescadores (n=163), apresentaram diferenças quanto à produtividade e seletividade. A espía foi a técnica mais produtiva. O sarraio e a espía foram técnicas mais seletivas, quando comparadas à vara de pesca. Foi evidenciada a partilha de nicho entre os pescadores locais e ocasionais quanto ao uso do espaço de pesca e das estratégias de captura utilizadas. Foram observados indícios de regras de uso do espaço de pesca: o respeito dos pescadores ocasionais sobre o ponto de pesca utilizado apenas pelos pescadores locais, além de um comportamento territorial dos pescadores locais que defenderam o ponto de pesca através de sanções sociais (intimidação). Foram registrados os fatores sócio-ecológicos que favorecem planos de co-manejo pesqueiro, como a presença da associação de pescadores dentre outros. A pesca na praia da Pinheira foi analisada através do modelo de forrageio ótimo a partir de um “lugar central” (ponto de saída das embarcações de pesca), que prevê que os pescadores procurarão maximizar os ganhos (biomassa de peixe capturada) em pontos de pesca mais distantes intensificando o esforço de captura. Foram registrados os seguintes dados dos desembarques pesqueiros (n=285): técnicas e áreas de pesca, tempo de viagem até as áreas de pesca (custos), tempo de permanência nas áreas de pesca (esforço) e espécies capturadas (benefícios). O comportamento dos pescadores não seguiu as premissas do modelo de forrageio ótimo. Os pescadores das técnicas de pesca caceio e fundeio visitaram as áreas de pesca de maior probabilidade de boas capturas, independente da distância do “lugar central”. Para encontrar esses lugares os pescadores utilizaram técnicas de sondagem que indicaram as áreas de pesca de maior produtividade. Também foram realizadas entrevistas com pescadores das praias da GE (n=28) e PP (n=31), com mais de dez anos de experiência na atividade, com o objetivo de registrar o conhecimento ecológico local (CEL) e compará-lo com a literatura científica e com estudos biológicos. Foi registrado o CEL dos pescadores sobre a abundância, período de reprodução e itens alimentares ingeridos por 7 espécies de peixes na GE e 13 espécies na PP. Foram coletados peixes de cinco espécies junto aos pescadores da PP para análises dos aspectos reprodutivos e alimentares. Os pescadores das duas comunidades possuem um conhecimento detalhado sobre as espécies de peixes, que foi influenciado por fatores como a utilidade e a abundância dos peixes e esteve de acordo com a literatura científica, na maioria das vezes. Algumas informações obtidas pelo CEL não foram encontradas na literatura científica e outras não condizentes com a literatura serviram para formular hipóteses para futuras investigações. Foram registradas diferenças no CEL dos pescadores quanto à biologia das espécies de mugilídeos e da anchova (Pomatomus saltatrix), quando comparadas as duas comunidades de pesca. O reconhecimento das particularidades das diferentes comunidades de pescadores permite conduzir as estratégias de manejo dos recursos de uma forma participativa e mais eficiente, através de práticas de co-manejo pesqueiro.

ASSUNTO(S)

human ecology ecologia humana etnoictiologia ethnoichthyology manejo fisheries management niche peixes marinhos marine fish pesca artesanal fishing artisanal optimal foraging theory

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