Perfil neuropsicológico das paralisias cerebrais: hemiplégica e diplégica

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

20/02/2009

RESUMO

Atualmente, diversas pesquisas têm sido direcionadas para o desenvolvimento de modelos explicativos sobre o desenvolvimento cognitivo de crianças com lesões cerebrais precoces. O perfil cognitivo neuropsicológico pode ser estudado comparando o desempenho em funções verbais e funções não-verbais. Desta forma, além de descrever os padrões de desempenho é possível também investigar fenômenos que têm sido freqüentemente apontados na literatura: neuroplasticidade, equipotencialidade, especialização hemisférica. Nesse contexto, o principal objetivo desta tese é investigar a convergência entre o perfil clínico e os padrões cognitivos das paralisias cerebrais (PC) hemiplégica e diplégica, investigando tanto as possíveis alterações lingüísticas quanto viso-espaciais. Esse foco de investigação foi definido a partir de observações dos padrões mais freqüentes no contexto da clínica. A PC é uma condição clínica caracterizada por variações sintomatológicas, entretanto algumas queixas são bastantes presentes, especialmente as limitações da comunicação, motoras e problemas de comportamento. A presente tese é constituída de três estudos independentes que estão organizados sobre a forma de artigos. Os três estudos representam a aplicação de métodos distintos e complementares para sustentar as evidências encontradas. Tanto os métodos quanto o modelo teórico estão fundamentados na perspectiva da neuropsicologia cognitiva. O primeiro estudo teve como objetivo construir instrumentos para avaliar as funções verbais. A elaboração de uma bateria de avaliação neuropsicológica do processamento lexical (BANPLE) foi um dos resultados desse estudo. Essa bateria é constituída de tarefas lingüísticas que avaliam componentes do modelo cognitivo-neuropsicológico do processamento lexical. Os resultados do estudo de construção da BANPLE foram satisfatórios para os critérios de consistência interna e validade de construto, contribuindo para futuros estudos e para a atuação clínica dentro da neuropsicologia pediátrica. O segundo estudo foi desenvolvido através da metodologia de comparação de grupos, analisando comparativamente os desempenhos lingüístico e viso-espacial de crianças normais com diplegia, hemiplegia direita e esquerda. O foco desse estudo foi demonstrar as diferenças entre tais grupos. O estudo foi constituído pela análise da acurácia do desempenho em tarefas elaboradas para avaliar as funções psicolingüísticas e viso-espaciais. Desta forma, seu objetivo estudo foi o de verificar a utilidade do modelo cognitivo-neuropsicológico do processamento lexical no contexto da avaliação neuropsicológica de crianças com PC, verificando os possíveis padrões de acordo com a classificação diagnóstica. Os resultados desse estudo demonstram, para a comparação entre as crianças com PC e o grupo controle, que as alterações lingüísticas encontradas são mínimas, não existindo diferenças estatisticamente significativas. Por outro lado, quando as comparações foram realizadas entre os tipos de paralisia foram encontradas alterações significativas especialmente para o grupo de crianças com hemiplegia. Como os grupos de crianças com hemiplegia esquerda e diplegia apresentaram resultados muito semelhantes aos do grupo controle, é possível enfatizar os déficits específicos da linguagem para a hemiplegia direita. O terceiro estudo é complementar ao segundo. Através da análise de conglomerados foi possível confirmar a distinção entre os grupos por padrões de desempenho. O resultado da análise de conglomerados favoreceu o debate emergente no segundo estudo entre a especialização hemisférica e a equipotencialidade cerebral. Os resultados encontrados nos dois estudos demonstram que um dos perfis para a hemiplegia direita é resultado dos mecanismos de neuroplasticidade funcional. As evidências de baixos escores nas tarefas de linguagem, assim como nas tarefas viso-espaciais, sugerem que ocorreu o fenômeno denominado de overcrowding cerebral. Esse fenômeno é característico da preservação da linguagem tranferida para o hemisfério direito em detrimento das funções não-verbais. Portanto, as funções viso-espacial podem ser comprometidas. Os resultados da análise de conglomerados favoreceram a identificação de casos com desempenhos cognitivos dissociados. O estudo de casos isolados dentro da neuropsicologia cognitiva é uma metodologia com nível de padrão-ouro. O estudo de casos apresentado é uma evidência de uma dupla-disssociação entre funções lingüísticas e entre as funções viso-espaciais. Esse resultado é favorável à hipótese de especialização hemisférica, caracterizando o hemisfério esquerdo como mais voltado ao processamento das funções lingüísticas e o hemisfério direito ao processamento das funções viso-espaciais. Os resultados da presente tese demonstram que as PCs hemiplégica e diplégica apresentam perfis mistos. O perfil cognitivo de crianças com hemiplegia direita depende da ocorrência de processos de reorganização neurocognitiva, provocando o fenômeno do overcrowding cerebral ou mantendo o padrão marcado pelo efeito da especialização hemisférica semelhante ao apresentado por adultos. Para as crianças com hemiplegia esquerda, o padrão cognitivo é caracterizado por déficits não-verbais como no caso das funções viso-espaciais. Outro resultado demonstra que as crianças com diplegia apresentam um perfil mais misto e, para maioria dos casos, o desempenho foi semelhante ao grupo controle constituído de crianças normais. Os resultados são evidências de que a neuropsicologia cognitiva é bastante útil para a investigação de processos cognitivos. Apesar da ênfase dada aos estudos de casos isolados como única metodologia da neuropsicologia cognitiva, a presente tese demonstrou a importância da complementaridade entre os estudos de caso e de grupos. Por fim, os resultados demonstram que a equipotencialidade e a especialização hemisférica são fenômenos presentes no processo de desenvolvimento cognitivo. A co-existência dessas propriedades é resultado da plasticidade neuronal e da organização neurocognitiva em redes, contrariando a perspectiva modularista

ASSUNTO(S)

paralisia cerebral teses. neuropsicologia teses. pediatria teses. paralisia cerebral/psicologia decs paralisia cerebral/complicações decs transtornos cognitivos decs transtornos da linguagem decs transtornos da comunicação decs desempenho psicomotor decs testes neuropsicológicos decs neuropsicologia/métodos decs criança decs dissertações acadêmicas decs tese da faculdade de medicina da ufmg

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