Perfil e preocupações de adolescentes em tratamento de câncer atendidos em unidades pediátricas

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

O presente estudo investigou, em adolescentes atendidos nos setores de oncohematologia pediátrica do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) e do Hospital de Apoio de Brasília (HAB), a incidência dos principais tipos de câncer, as características sociodemográficas (sexo, idade, procedência, grau de escolaridade) e os fatores geradores de sofrimento associados ao tratamento, conforme a percepção dos próprios adolescentes. Foram desenvolvidos dois estudos de campo. O primeiro, retrospectivo, analisou os registros hospitalares dos 380 adolescentes, de 12 a 18 anos de idade, atendidos nos setores selecionados entre 1994 e 2004. O segundo estudo baseou-se em entrevistas realizadas com 22 dos adolescentes que, em 2005, estavam em tratamento onco-hematológico no HAB. Os resultados do estudo retrospectivo mostraram que 63% dos adolescentes eram do sexo masculino, 80% tinham até 15 anos de idade e 52% eram procedentes do Distrito Federal, sendo a leucemia a neoplasia de maior incidência em todos os anos do período considerado. Na amostra entrevistada, 14 adolescentes eram do sexo feminino e residiam no Distrito Federal, 10 tratavam leucemia linfoblástica aguda (LLA) e todos foram submetidos à quimioterapia. Os principais temores em relação ao tratamento incluíram a exposição a procedimentos médicos invasivos e a alopecia. O enjôo foi o efeito colateral referido como o que mais incomodava. Dormir e fazer uso de medicação eram as estratégias mais adotadas para o alívio desses efeitos. As áreas que sofreram maior interferência do tratamento foram: lazer, escola e relacionamentos familiares. Dezesseis adolescentes referiram que não podiam mais realizar as atividades habituais de lazer, embora nove tenham passado a realizar novas atividades. Nove participantes interromperam as atividades escolares e quatro mencionaram dificuldades de aprendizagem e de relacionamento com colegas. O aumento da aproximação entre os membros da família foi a principal mudança em termos de relações familiares. Os entrevistados gostariam de receber mais informações sobre a doença e o tratamento e que os amigos se reaproximassem. Sugeriram que houvesse mais atividades de lazer durante a internação (jogos, filmes, e vídeo-game) e que esse período fosse utilizado para novos aprendizados. O estudo aponta a necessidade de atendimento psicossocial específico, no qual se disponibilize aos pacientes: acolhimento, esclarecimentos periódicos sobre o quadro clínico e o tratamento, atividades lúdicas, formação de grupos para troca de experiências, discussão de temas relacionados às mudanças provocadas e oferecimento de suporte emocional. Destaca-se, ainda, a necessidade de sensibilização da equipe de saúde para lidar com as demandas de pacientes adolescentes. Espera-se que as informações obtidas possam subsidiar outros estudos que investiguem o perfil de adolescentes em tratamento de patologias crônicas, demandas psicossociais e estratégias de enfrentamento, bem como estimular projetos governamentais e ações de administração hospitalar que ampliem o conhecimento e o suporte psicológico e interdisciplinar sistemático oferecido a pacientes adolescentes.

ASSUNTO(S)

psicologia do adolescente adolescência psicologia clínica câncer psicologia comportamento humano

Documentos Relacionados