Peneiras autopoiéticas : duplicação paródica do pensamento de Niklas Luhmann na escrita de Franz Kafka

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A pesquisa analisa, a partir da literatura de Kafka, o funcionamento do sistema jurídico. A forma auto-referente como esse sistema se reproduz e o seu isolamento epistêmico são objeto de representação estética na obra de Kafka. Assim, sua literatura converte-se numa espécie de travestimento paródico do pensamento sistêmico de Niklas Luhmann. As teses e conceitos de Luhmann são confrontados com a literalidade das imagens de Kafka. Para Luhmann, o sistema jurídico deve ocupar-se de regular sua própria função preservando sua independência em relação aos outros sistemas através de sua clausura autoreferencial. Mas essa clausura não significa isolamento, e sim uma abertura do sistema jurídico para o seu meio. Como sistema autopoiético, todas as trocas do sistema jurídico com seu entorno são mediadas pelo seu código comunicativo jurídico/não jurídico através do qual são selecionadas as informações possíveis de reprodução a partir dessa lógica interna. A escrita de Kafka, especialmente em O processo e O castelo, é compreendida como apropriações imagéticas desse discurso, revelando, pelo exagero e distorções, uma versão desdenhada ou intangível pelo pensamento formal. A autopoiesis do sistema jurídico converte-se em um mecanismo narcísico e profilático. Pela mediação cômica de Kafka, o funcionamento auto-referente do sistema jurídico alcança o nível fundamental da ideologia, da fantasia ideológica que estrutura a própria realidade, desvelando o fundamento místico de sua autoridade. A literatura kafkiana antecipa os sintomas da transição para um novo regime de poder, chamado Império, através do qual o capitalismo reinventa suas formas de controle e hegemonia. A passagem do panoptismo para uma sociedade de controle, a corrupção, o vazio ontológico, a comunicação, a diluição da dicotomia dentro/fora, público/privado encontram, como constantes dessa nova ordem, seus correspondentes na ficção de Kafka. Para construir uma relação dialógica com o pensamento de Luhmann e traçar alternativas nesse novo cenário ideológico, Kafka constrói um espaço adequado para as experimentações transversais do saber, como um rizoma deleuziano. O conto A toca é arquitetura estética dessa gnosiologia kafkiana.

ASSUNTO(S)

franz kafka riso letras niklas luhmann autopoiese

Documentos Relacionados