Pátria, nação, povo brasileiro na produção didática de Manoel Bomfim e Olavo Bilac: Livro de Leitura (1899) e Atravez do Brasil (1910)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Esta pesquisa analisou a produção didática de Manoel Bomfim e Olavo Bilac, elegendo as obras Prática da Língua Portugueza Livro de Leitura para o Curso Complementar, de 1899 e Atravez do Brasil Livro de Leitura para o Curso Médio, de 1910. Na perspectiva dos estudos da História Cultural e partindo da compreensão do livro didático como produto cultural e um dos dispositivos acionados pelo Estado para a produção e disseminação de uma seleção cultural que, entre outras coisas, assinala memórias e identidades consideradas legítimas para a nação, investigou-se os contextos de produção e circulação dessas duas obras, delineando a sua inscrição na história das edições didáticas e no processo de institucionalização da escola no Brasil (final do século XIX e início do século XX) em que ganham relevo e agenda pública as disputas intelectuais em torno das narrativas sobre a Pátria, a Nação, e o em torno do binômio raça/povo brasileiro. As fontes privilegiadas durante a investigação, além das próprias obras, foram as biografias dos autores e suas bibliografias, as biografias do editor (Francisco Alves) produzidas por estudiosos do período, registros de escritores contemporâneos aos autores, especialmente os vinculados às suas redes de sociabilidades, (em auto-biografias ou equivalentes) periódicos e catálogos editorais, estudos e investigações acerca da história das edições didáticas no Brasil e sobre o debate em torno da questão racial que se estabeleceu como agenda pública no período. Para o tratamento das fontes, buscou-se estabelecer com o diálogo entre os registros e vozes presentes nos discursos, a fim de identificar seus pontos de similitude, contradição e compreensão mútua. A investigação concluiu que as obras foram produzidas e circularam no contexto de institucionalização da escola no Brasil em que os livros didáticos vão ganhando contornos específicos e, no campo do ensino da leitura, disputam a hegemonia quanto ao modelo formal, as antologias, as narrativas em livro único, os livros em série e os cadernos de atividade, sendo que a primeira das obras estudadas se enquadra no modelo de antologias e a segunda das obras se enquadra no modelo de narrativa em livro único. Concluiu, ainda, que o tratamento dado às questões de nacionalidade, pátria e raça/povo brasileiro nas duas obras apresenta uma narrativa legitimadora da Independência do Brasil como marco fundador da nação, não conferindo tratamento explicitamente elogioso ou mesmo recorrente à República, constrói e apresenta um território nacional sobretudo rico e valoroso do ponto de vista natural e também das construções do progresso (ferrovias, obras de infra-estrutura, indústrias), elege como modelar do povo brasileiro o tipo mestiço, preservando a distinção entre o mestiço sertanejo e o mestiço litorâneo, mas propondo uma interpretação desses dois tipos como momentos evolutivos da mesma nação e delineia um tratamento diferenciado para as matrizes negra/africana, indígena e portuguesa/européia na formação da nacionalidade brasileira em que a primeira é reconhecida como vítima da escravidão, mas valorosa por seu patriotismo, sua capacidade de trabalho e sua participação no processo civilizatório e a segunda é delineada como ingênua, belicosa, resistente à civilização, devendo, todavia, por ela ser conquistada

ASSUNTO(S)

educacao livro didático leitura identidade nacional olavo bilac manoel bomfim didactic book reading national identity

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