Paradoxos do programa de parteiras tradicionais no contexto das mulheres Krahô

AUTOR(ES)
FONTE

Ciênc. saúde coletiva

DATA DE PUBLICAÇÃO

22/07/2019

RESUMO

Resumo Este artigo analisa o impacto do Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais no cotidiano de um grupo de mulheres indígenas Krahô. Trata-se de um estudo etnográfico que utilizou a observação e o diário de campo como suportes principais, além de entrevistas pontuais e dados secundários. O trabalho de campo ocorreu entre agosto de 2015 e dezembro de 2016 e envolveu dez mulheres de oito aldeias diferentes. Os resultados apontam uma desconexão entre o objetivo principal do Programa, centrado na valorização e no resgate do saber da parteira, e a realidade no cotidiano das aldeias. Muito embora o programa tenha como público-alvo mulheres que já atuam empiricamente no cenário do parto, houve o entendimento de que as mulheres “tornaram-se parteiras” após o curso. Por consequência, a falta de pagamento e a expectativa frustrada de contratação por parte do “governo”, embora não previstas, foram interpretadas como descaso. Os resultados indicam um viés etnocentrado do Programa, focado na difusão do saber científico e na entrega de materiais fora da lógica de cuidado do grupo em análise. Estudos que avaliem o impacto das ações do Programa em outros contextos, inclusive não indígenas, podem contribuir para os ajustes necessários e a efetiva valorização do trabalho dessas mulheres.Abstract This paper analyses the impact of the Working with Traditional Midwives Program on the daily routine of a Krahô indigenous women group. This is an ethnographic study that mainly used observation and field diary as supporting tools. Other tools were timely interviews and secondary data. Fieldwork occurred between August 2015 and December 2016 and involved ten women of eight different villages. Results point to a disassociation between the Program’s main objective, which is focused on appreciating and reviving midwives’ knowledge and the daily village reality. Although the Program has targeted women who already work empirically on the birth setting, there was a generalized acknowledgement in villages that women “became midwives” after taking the course. Consequently, the lack of payment and the frustrated expectation that “government” would hire them, though never assumed, were interpreted as neglect. Results reveal an ethnocentric bias of the Program, focused on disseminating scientific knowledge and delivering materials that deviate from the logic of the group under analysis. Studies that evaluate the impact of the Programs’ actions in other contexts, including non-indigenous ones, may contribute to the necessary adjustments and the effective appreciation of these women’s work.

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