Para definição de criança desnutrida considera-se essencialmente o peso abaixo do percentil 10?

AUTOR(ES)
FONTE

Núcleo de Telessaúde Sergipe

DATA DE PUBLICAÇÃO

12/06/2023

RESUMO

Pode-se entender a desnutrição como uma doença de origem complexa e de múltiplas causas. Ela decorre da carência de nutrientes necessários para que o organismo realize seu metabolismo fisiológico (1). A utilização isolada do índice peso/idade na caracterização de um déficit nutricional, ainda que muito difundida, apresenta algumas limitações. Considera-se adequado seu uso para crianças no primeiro ano de vida, cujas alterações de peso são mais sensíveis às mudanças do estado nutricional e da saúde geral (2). Fora deste grupo etário, o comprimento/altura passa a refletir melhor o impacto das condições de vida ou de enfermidades associadas ao estado nutricional, recomendando-se o uso simultâneo dos índices altura/idade e IMC, permitindo-se identificar temporalmente o processo do desvio nutricional, ou seja, se iniciou no passado ou se é mais recente (2,3).

Assim, deve-se considerar sempre, na monitorização do estado nutricional da criança, os índices de equilíbrio entre altura e idade, peso e idade e peso e altura, e valores de IMC. Estes dados precisam ser registrados na Caderneta de Saúde da Criança, onde se encontram os valores de referência determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – curvas de 2006 (para crianças menores de 5 anos) e 2007 (para a faixa etária dos 5 aos 19 anos) (2,3).

O padrão da OMS deve ser usado para avaliar crianças de qualquer país, independentemente de etnia, condição socioeconômica e tipo de alimentação  No entanto, para que uma criança seja efetivamente classificada dentro de um  grupo de “desvio nutricional”, é necessária a avaliação das características individuais e do meio onde vive, para que possamos atribuir as causas para ela estar fora da curva e agir sobre elas, quando possível (3).

No que se refere à caracterização de uma criança desnutrida, o déficit estatural é melhor que o ponderal como indicador de influências ambientais negativas sobre a saúde da criança, sendo o indicador mais sensível de má nutrição nos países. A baixa estatura é mais frequente nas áreas de piores condições socioeconômicas e quatro vezes mais prevalente em crianças com baixo peso ao nascimento (4).

O estado nutricional infantil é determinado, na dimensão individual, pelo consumo alimentar e pelo estado de saúde da criança. Estes dependem dos cuidados dispensados pela família à criança, da salubridade do ambiente e da disponibilidade de alimentos no domicílio, da qualidade do vínculo entre mãe e filho e das condições de nascimento da criança (2). Sabe-se, porém, que o estado nutricional varia, mesmo nas mesmas condições ambientais, isto é, entre crianças de igual nível socioeconômico, algumas desnutrem e outras não (5). Por ter um caráter multifatorial, condições sociais adversas – como situação de pobreza da família, baixa escolaridade materna e grande número de filhos – também podem estar implicadas na gênese da desnutrição, e devem ser consideradas.

Uma vez identificado qualquer desequilíbrio nestes fatores, uma avaliação completa do estado nutricional é mandatória, contemplando anamnese alimentar e dados de ingestão (com atenção especial ao desmame e introdução de alimentação complementar), exame e história clínica (doenças diarreicas, infecções respiratórias agudas, higiene), calendário vacinal, dados psicossociais (relação familiar/comportamento da criança) (2,3). Igualmente importante no seguimento desses casos – a partir da identificação da criança com déficit de crescimento/baixo peso – é envolver a família no tratamento, porque muitas vezes as alterações ocorrem de forma moderada e leve, não sendo perceptíveis para os familiares.

Em meados de 2013, a OMS emitiu um novo guia com orientações nutricionais e de manejo para crianças com quadro de desnutrição aguda, mas sem outras condições clínicas que exijam internação hospitalar, permitindo que as mesmas possam ser tratadas em casa com suas famílias (6).

É importante promover um acompanhamento individualizado às crianças desnutridas ou em risco de desenvolverem desnutrição, assegurando-lhes o atributo do acesso, de forma irrestrita à Unidade de Saúde, em caso de quaisquer intercorrências.

A longitudinalidade – a continuidade do cuidado – pressupõe a existência de uma fonte regular de atenção e a recorrência a ela ao longo do tempo, e constitui-se em outro atributo fundamental no cuidado a essas crianças (2).

Tentar estabelecer estratégias para sensibilizar as famílias e avaliar a prática profissional neste sentido, pensando na integralidade e interdisciplinaridade do cuidado. A integralidade, outro atributo da APS, resume-se na capacidade da equipe de saúde de identificar e lidar com o leque completo das necessidades de saúde apresentadas pelos indivíduos, resolvendo-as, ou prestando orientações para que estes recebam os serviços dos demais pontos de atenção à saúde (2).

Em termos de prevenção da desnutrição infantil, é importante rever as orientações sobre aleitamento materno e fornecê-las desde o acompanhamento pré-natal até a época da introdução da alimentação complementar, ouvindo a mãe e suas noções e dúvidas acerca deste passo, incentivando e corrigindo quando necessário. Neste sentido, seguem algumas sugestões, baseadas no Guia alimentar para crianças menores de dois anos (4):

ASSUNTO(S)

saúde da criança enfermeiro t04 problemas alimentares de lactente / criança estado nutricional transtornos da nutrição do lactente transtornos da nutrição infantil

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