Papel dos (glico)esfingolipídeos e proteofosfoglicanos de Leishmania (Leishmania) amazonensis na infecção de macrófagos. Caracterização de novos antígenos e isolamento de microdomínios de membranas resistentes a detergente não-iônico. / Role of (glyco)sphingolipids and proteophosphoglycans of Leishmania (Leishmania) amazonensis on macrophage infection. Characterization of novel antigens and isolation of non-ionic detergent-resistant membrane microdomains.

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

As leishmanioses constituem um importante problema de saúde pública no Brasil, em razão da incidência da doença associada à alta taxa de morbidade. Devido ao fato da Leishmania ser um parasita intracelular no hospedeiro vertebrado, estudos de moléculas do parasita, que atuam na interação do parasita com a célula do hospedeiro vertebrado, são de alta importância para uma melhor compreensão dos mecanismos de invasão e sobrevivência do parasita. Seguindo este racional, nesta tese foram identificados, purificados e caracterizados os proteofosfoglicanos secretados por formas promastigotas (pPPG) e amastigotas (aPPG) de L. (L.) amazonensis, respectivamente de meios de cultura e de macrófagos infectados com esses parasitas. A purificação dos PPGs foi realizada por combinações de cromatografias em DEAE-Sephadex, Octyl-Sepharose e Bio-Gel A- 0.5 e ultracentrifugações. Por "Western blotting" e radioimunoensaio em fase sólida utilizando diferentes anticorpos monoclonais (mAbs), observou-se que o pPPG apresenta alto peso molecular, contem cadeias fosfoglicanas e é reconhecido por mAbs anti-glicoesfingolipídeos (GSLs) ST-3 e ST-5, e mAb anti-lipofosfoglicano (LPG) VST-1. Em estudos imunohistoquímicos de cortes de lesão de hamsters infectados com L. (L.) amazonensis, observou-se a presença de material reativo com os mAbs ST-3, ST-4 e ST-5 na superfície do parasita e em torno do vacúolo parasitóforo. Após delipidação de cortes da lesão (processo em que são extraídos os glicolipídeos), a reatividade com os mAbs limitou-se a algumas regiões do vacúolo, sugerindo a possível localização dos aPPGs na célula infectada. O aPPG apresentou padrão de migração eletroforética similar ao pPPG, e foi reconhecido pelos mAbs ST-3, ST-4 e ST-5, mas não pelo mAb VST-1. A análise da composição monossacarídica dos PPGs de L. (L.) amazonensis por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massa mostrou que o pPPG é composto por manose:galactose:glucose, na proporção molar de 1:1,2:1,7. Por outro lado, o aPPG apresenta em sua estrutura manose:galactose:glucose na proporção de 1:2:9. Em experimentos paralelos foram avaliados os níveis de produção de óxido nítrico e do fator de necrose tumoral por macrófagos peritoneais de camundongos BALB/c expostos a diferentes estímulos com antígenos parasitários de L. (L.) amazonensis. Observamos que LPG, pPPG e GSLs per se não estimularam os macrófagos na produção de NO. Por outro lado o aPPG per se mostrou-se capaz de estimular a produção de NO. LPGs e pPPGs foram capazes de estimular a produção de óxido nítrico quando incubados na presença de interferon gama. Por outro lado, GSLs e interferon gama não foram capazes de estimular a produção de NO em macrófagos. Nenhum dos antígenos de Leishmania utilizados estimulou a produção de fator de necrose tumoral. O perfil glicolipídico de amastigotas axênicos de L. (L.) amazonensis em comparação com o de amastigota isolado de lesão foi analisado por HPTLC, tendo sido verificadas diferenças significativas no padrão cromatográfico dos glicolipídeos. Os glicolipídeos de formas axênicas não são reconhecidos por mAbs anti-GSLs. A organização dos glico(esfingo)lipídeos e glicoinositolfosfolipídeos (GIPLs) de formas amastigotas e promastigotas de L. (L.) amazonensis foi analisada. Para isso, membranas resistentes ao detergente não-iônico Triton X-100 foram isoladas a 4C. Em formas amastigotas foi verificado que os GSLs, esfingomielina e esteróis estão predominantemente localizados em frações de membranas resistentes ao tratamento com Triton X-100. Em formas promastigotas foi verificado que inositol fosforilceramida, GIPLs e esteróis estão localizados preferencialmente nas membranas de baixa densidade insolúveis em detergente nãoiônico a 4C. Em um outro conjunto de experimentos foi analisado o efeito de inibidor de síntese de esfingolipídeo, Aureobadisina A (AbA), em formas promastigotas e amastigotas de L. (L.) amazonensis. Em formas promastigotas foi observado que a AbA inibe o crescimento dos parasitas, entretanto esse efeito é reversível. Em ensaios de infectividade in vivo observou-se que camundongos BALB/c infectados com parasitas tratados com AbA apresentavam um desenvolvimento tardio das lesões em relação aos infectados com parasitas sem tratamento. Por outro lado, em culturas axênicas de amastigotas isoladas de lesão foi observado que a AbA é tóxica aos parasitas. Após a adição da AbA em cultura de macrófagos infectados com formas amastigotas, verificou-se uma diminuição significativa da infecção de macrófagos. Todos estes resultados sugerem que os glicoconjugados de L. (L.) amazonensis analisados nesta tese podem atuar na interação entre o parasita e o hospedeiro, exercendo papéis importantes na sobrevivência e progressão da leishmaniose.

ASSUNTO(S)

1. glicoesfingolipídeo. 2. proteofosfoglicano. 3. leishmania. 4. aureobasidina. 5. membranas resistentes ao detergente. 6. macrófago. biologia molecular

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