Padrões biogeograficos e vocais em Callithrix do grupo jacchus (Primates, Callithrichidae)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1997

RESUMO

O presente estudo apresenta uma revisão dos dados disponíveis na literatura dos últimos 20 anos sobre taxonomia de Callithrix do grupo jacchus, discutindo a validade dos seguintes taxa e as relações filogenéticas entre eles: allrita, flaviceps, geoffroyi, jacchus, kuhlii e penicillata. Reunindo informações dispersas na literatura e novos dados de campo, é apresentada uma listagem atualizada de localidades de ocorrência destes taxa. Sobrepondo-se estas localidades a um mapa das principais regiões fito ecológicas brasileiras, estima-se o tamanho da área de distribuição de cada taxon, suas afinidades às formações vegetais e seu padrão de distribuição. As evidências disponíveis sugerem que os seis taxa de Callithrix estudados são espécies válidas, pois tratam-se de entidades discretas, diferenciáveis morfológica e geograficamente. As variações encontradas dentro de cada taxon parecem predominantemente relacionadas a polimorfismos populacionais. Com base em caracteres morfológicos, genéticos, biogeográficos e vocais pode-se subdividir o grupo jacchus em dois subgrupos monofiléticos: aurita (aurita eflaviceps) ejacchus (geoffroyi, jacchus, kuhlii e penicillata). Os taxa de Callithrix do grupo jacchlls são tipicamente parapátricos, em geral sucedendo-se geograficamente em zonas de transições fito ecológicas, onde ocorrem hibridações. As zonas de hibridação aparentemente são estreitas, sugerindo a existência de mecanismos que restringem o fluxo gênico entre os taxa. A distribuição geográfica dos taxa aurita, flaviceps, geoffroyi e kuhlii restringem-se, basicamente, à região da mata atlântica. Na região dos cerrados predomina penicillata e na caatinga predomina jacchlls. Este último também habita a mata atlântica nordestina. O único taxon do grupo jacchus que não ocorre, naturalmente, na mata atlântica costeira parece ser penicillata. Foram gravadas vocalizações de longo alcance (canto) de Callithrix do grupo jacchus em seu ambiente natural, com a finalidade de comparar os padrões vocais dos seis taxa, em busca de caracteres capazes de diferenciá-los. As vocalizações foram analisadas em sonógrafo digital e tratadas estatisticamente através de análises de variância. As análises sonoras demonstraram que cada um dos seis taxa pode ser diferenciado com base na estrutura dos seus cantos, principalmente utilizando-se a primeira nota, ou sílaba. As vocalizações apoiam a divisão do grupo jacchus em dois subgrupos (aurita e jacchus). Dentro de cada subgrupo há parâmetros relacionados à duração e freqüência das notas capazes de diferenciar todos os taxa. As diferenças nos parâmetros acústicos entre os taxa do subgrupo jacchus não estão claramente relacionadas às supostas distâncias filo genéticas inferidas com base em dados morfológicos. É possível que essas diferenças tenham relação com a história de contato biogeográfico entre esses taxa, sendo reforçadas como mecanismos de reconhecimento populacional e isolamento reprodutivo. As vocalizações de híbridos e vocalizações de um espécime criado sem contato acústico com seu próprio taxon sugerem que há um forte componente genético na estrutura dos sinais de comunicação sonora de Callithrix. Os resultados deste estudo indicam que a vocalização é um caráter comportamental que pode ser usado para suplementar técnicas tradicionais de taxonomia de Callithrichidae, mas deve ser usada com cautela no tratamento de filogenias

ASSUNTO(S)

primatas biogeografia

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