Os Relatórios Kinsey, Masters &Johnson, Hite: as sexualidades estatísticas em uma perspectiva das ciências humanas

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Este trabalho é o resultado de uma análise discursiva e extradiscursiva sobre os relatórios Kinsey, Masters &Johnson e Hite publicados entre os anos de 1948 e 1981. Procura verificar as condições de produção histórica destes relatórios sobre sexualidade, servindo-se do instrumental teórico e metodológico de Michel Foucault em uma perspectiva interdisciplinar. Estes documentos emergiram num contexto social e histórico, apresentando comportamentos sexuais relatados confidencialmente por homens e mulheres através de enquetes e entrevistas, de modo a terem se integrado às práticas coletivas com status de verdades científicas. A tese se constitui em apontar o disfarce de critérios quantitativos em critérios qualitativos e, por extensão, da prática discursiva comum de confundir descrições com apreciações, estas últimas com julgamento valorativo e normativo. Os relatórios analisados, produzidos nos Estados Unidos e com repercussão mundial, contribuíram para disseminar formas não apenas de um agir sexual, mas de um falar e pensar sobre sexo através da mediação da ciência. Desta maneira, a verdade é tomada não como um conhecimento objetivo ou subjetivo em relação ao pensamento, mas verdade como obrigação de pensar de uma certa maneira em uma certa época e em determinado lugar. O recurso à estatística se revela como uma continuidade histórica do século XX, em busca de legitimidade para formulações científicas na área das ciências humanas, configurando um tipo especial de sujeito: a persona numerabilis, uma pessoa, homem ou mulher, que incorpora práticas de normalização, "mediadas" pela média numérica e estatística de uma população: antropometria, psicometria, taxa de fecundidade, expectativa de vida, incidências de doenças, índices comportamentais, percentuais de diagnósticos, etc, passam a fazer parte deste cenário. Neste contexto numérico, os relatórios são exemplos de formas de saber/poder articulados numa engrenagem onde sexualidades estatísticas se convertem em sexualidades prescritivas e estas, em sexualidades verdadeiras, normalizadas.

ASSUNTO(S)

sexualidade - relatórios ciências humanas

Documentos Relacionados