Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII / Indian Peoples And The "Sertões" of The Gold Mines In The 18th Century

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Este estudo aborda as políticas de ocupação e exploração das minas dos sertões concomitante as reações indígenas, no século XVIII, principalmente, a partir da década de 1730. Ao analisar as fontes, contempladas nas correspondências entre autoridades, instruções, planos de catequese e civilização, se constatou que a violência, como resultado da prática consuetudinária, prevaleceu sobre as leis de integração social dos gentios. Avaliou-se as investidas dos índios, ao impedirem o êxito dos propósitos do Antigo Sistema Colonial, tornaram objetos da política de Estado incluindo o destino desses povos na pauta de diretrizes, donde derivou a série de planos de catequese. Entretanto, nada mais foram que alternativas dissimuladas de cooptação, articuladas numa seqüência estratégica de anulação das resistências indígenas, como a invenção dos aldeamentos foi um meio de confiná-los em redutos projetados para infligir os hábitos da vida sedentária e a extinção da vida nômade. Pretendia-se adaptá-los ao modelo de civilização européia, promover a convivência com os não índios e viabilizar o acesso às minas. Nesta perspectiva a colonização, inevitavelmente, esteve associada à apropriação das riquezas, condição determinante do sentido à conquista e a razão à catequese. Em contrapartida, originou uma situação permanente de tensões diretamente vinculada à desapropriação das terras indígenas, conjuntamente revelou a maior incidência das disputas nas áreas dos principais focos de lutas indígenas e identificou-se, exatamente, nelas a concentração da política indigenista. Embora aparentemente as estratégias ressoassem o intuito de apaziguar os índios mediante os instrumentos de sujeição, tutela, liberdade restrita, a guerra ofensiva foi um recurso condicionado aos agravos das reações indígenas. Contudo, a guerra, fenômeno histórico-cultural tanto indígena quanto europeu, se efetivou nos combates armados de ambos os lados. Assim, sob o artifício da fé e civilização se enunciou o dever cristão de conduzir o bárbaro selvagem à salvação. No entanto, o cumprimento do dever esteve conexo à recompensa de administrar a vida dos índios, por conseguinte, de administrar a opulência do patrimônio abrigado nas sesmarias e datas minerais localizadas nos sertões. Em função disso, foi indispensável à pesquisa apreender a concepção de sertões e reconhecer a significância do nomadismo, comum aos índios, que forneceu a imagem de espaços em movimentos, compreendendo fronteiras imprecisas que se interagiam nas dimensões étnicas, sociais e econômicas. A itinerância dos índios conferiu atributos à identidade dos ambientes naturais, à medida que se deslocavam se constituía a referência de fluidez dos espaços, mas para dominá-los dependia de fixá-los em limites. Portanto, a correlação entre mobilidade dos sertões e inconstância dos gentios configurou uma geopolítica específica do interior da América portuguesa interligado pelos caminhos trilhados das minas do ouro entre Minas-Goiases-Cuiabá, Minas e Espírito-Santo, Minas-Bahia e assim por diante. As Minas Gerais setecentista, respeitadas as peculiaridades do contexto e das diversas etnias dos povos indígenas, guardavam os metais preciosos e delas se partia para outras minas. Os sertões dos índios eram os sertões das Minas do ouro, espalhadas ao longo dos rios, distantes do litoral, se apresentaram nos focos de reações indígenas que se interpunham como desafio para atingi-las.

ASSUNTO(S)

catequese catechism colônia Índios land colony indians terra hinterland sertão

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