Os nós da arqueologia: leituras da paisagem e memória na igreja de Nossa Senhora da Saúde, Rio de Janeiro - RJ / The ties of archaelogy: readings of landscape and memory in the church of Our Lady of Health, Rio de Janeiro - RJ

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

18/04/2011

RESUMO

A capela foi construída em 1742, pelo comerciante de escravos Manoel da Costa Negreiros em devoção a Nossa Senhora da Saúde, no alto de um morro junto à faixa litorânea com destaque na paisagem da região atuando como ponto de referência para viajantes e navegadores da baía da Guanabara. O nome Saúde passou a nominar o morro e depois o bairro, e a capela a agir como um vetor na expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro juntamente com o novo porto. A partir do século XVIII, a paisagem da região sofreu um processo radical de transformação: de área alagada, de rocio da cidade o qual apresentava um litoral recortado por várias baías e ilhas, transformou-se em área seca, composta por sucessivos aterros e faixa litorânea retilínea, uma área totalmente introduzida no núcleo urbano. Passando por várias transformações e proprietários estes vestígios nos chegaram ao século XXI quando encontramos com uma igreja abandonada, descaracterizada, inserida em uma área degradada, \"sufocada\" pela malha urbana atual, necessitando de restauro e de revitalização. O projeto de restauração da igreja contou com uma equipe multidisciplinar composta por historiadores, restauradores, arquitetos e arqueólogos. Através da análise dos resultados destas pesquisas foi possível a construção de diferentes \"passados\" os quais que se interpenetram e permanecem nesta que foi declarada patrimônio nacional a partir do seu tombamento (Processo nº 0036-T-38 de 02 de agosto de 1938). A partir da análise de uma massa de evidências e informações sobre a igreja, os arredores e sobre a cidade do Rio de Janeiro e seus habitantes, levantamos alguns indícios da presença e perpetuação de uma tradição judaica e da participação de múltiplos agentes, dentre eles, o judeu na formação de nossa sociedade. Utilizamos os conceitos teórico-metodológicos da \"arqueologia simétrica\", a partir dos quais a materialidade compreende uma \"rede\" encadeada por múltiplos agentes, o que possibilita mapear suas conexões no tempo e no espaço, ao invés de encerrá-la apenas em cronologias vazias e homogêneas. Estas conexões permitiram visualizar as redes de relações necessárias na formação e transformação do sítio, identificando os múltiplos agentes envolvidos na construção e manutenção do mesmo, percebendo ampliação destas redes de relações e comércio a partir das \"coisas\" recuperadas pela pesquisa. O vestígio produzido pelo ator ao ser abordado pelo arqueólogo passa a representar o ,,nó\" ideal para compreender as conexões que formam a rede e, a partir de uma análise simétrica ser capaz de (re) caracterizar nossa relação com a materialidade que sobreviveu ao passado e a materialidade contemporânea. Ao se associarem a uma rede de ações duradouras, todas as \"coisas\" se transformam em atores e estas \"coisas\" representam o \"nó\" ideal para \"receber\" e \"distribuir\" as conexões que formam a rede (OLSEN, 2003, p.98). O nosso \"nó\" ideal é a materialidade recuperada pela pesquisa arqueológica dentro da qual destacamos a própria edificação e os azulejos que revestem suas paredes trazendo-nos indícios de uma memória \"escondida\".

ASSUNTO(S)

arqueologia histórica arqueologia simétrica cristãos-novos cultura material historical archaeology marranism marranismo material culture new- christians symmetric archaeology

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