Os Ciclos biológicos de duas espécies simpátricas de Hyalella Smith, 1874 (Crustacea, Peracarida, Amphipoda, Dogielinotidae)

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Considerando a importância dos anfípodos como bioindicadores de qualidade ambiental e por serem espécies representativas da fauna de invertebrados aquáticos continentais, este trabalho teve por objetivo o estudo do ciclo biológico de duas espécies simpátricas, Hyalella pleoacuta González, Bond-Buckup & Araujo 2006 e H. castroi González, Bond-Buckup & Araujo 2006. Com vistas à caracterização da dinâmica populacional das duas espécies em campo foram avaliados o tamanho dos animais, a distribuição de freqüência em classes de tamanho, a maturidade sexual, a proporção sexual, o período reprodutivo, o recrutamento, a fecundidade e o sucesso de pareamento e o sucesso reprodutivo. Os espécimes foram coletados com auxílio de puçá, durante 12 meses, em 4 pontos distintos em 2 tanques de cultivo de trutas na localidade de Vale das Trutas, próximo as nascentes do Rio das Antas, município de São José dos Ausentes, RS (28°47’00”S - 49°50’53”O). O sexo e a condição ovígera das fêmeas foram registrados e todos os espécimes foram medidos quanto ao comprimento do cefalotórax (mm). Em laboratório as duas espécies foram cultivadas a 19 °C ± 1 °C e 12h luz / 12h escuro, identificando a duração do comportamento pré-copulatório, o tamanho de machos e fêmeas em pré-copula, o tamanho corpóreo das fêmeas ovígeras, o tempo médio de desenvolvimento embrionário e pósembrionário, a fecundidade, a viabilidade (número médio de juvenis liberados), a duração do ciclo de muda e a longevidade. Em laboratório os animais foram alimentados com ração para peixe (43% de proteína), macrófitas (Salvinia sp. e Callitriche rimosa) e alga (Ankistrodesmus sp.). A idade da primeira muda, a freqüência de muda, a idade da determinação do sexo e a maturidade sexual foram similares entre as espécies de Hyalella em condições laboratoriais. Entretanto, o período de intermuda total, o tamanho corpóreo máximo e a longevidade diferiram entre H. pleoacuta e H. castroi.Foi observada correlação entre o tamanho dos machos e fêmeas nos casais em pré-copula, ou seja, machos grandes carregam fêmeas grandes em ambas espécies de Hyalella. O sucesso de pareamento e sucesso reprodutivo dos machos aumenta a medida que o seu tamanho corpóreo também aumenta em ambas espécies de Hyalella. Fêmeas de tamanho corpóreo intermediário apresentaram maior sucesso reprodutivo em ambas espécies de Hyalella. Tanto H. pleoacuta como H. castroi mostraram as mesmas estratégias reprodutivas, especialmente quanto a duração do comportamento de pré-copula, a duração do período embrionário, fecundidade e fertilidade. Com relação à produção de ovos, H. pleoacuta produziu mais ovos do que H. castroi, mas nesta última os ovos são maiores. Em ambas espécies foi observada diminuição no número de ovos ao longo do desenvolvimento. Ambas espécies de Hyallela apresentaram uma estrutura populacional muito similar, especialmente a distribuição de freqüência em classes de tamanho, o maior tamanho corpóreo dos machos em relação às fêmeas, o padrão de proporção sexual com predominância de fêmeas e a reprodução e recrutamento contínuos. Entretanto, as espécies diferiram quanto ao número de exemplares amostrados, sendo H. pleoacuta aproximadamente 3 vezes mais freqüente do que H. castroi e também pelo fato de H. pleoacuta apresentar um tamanho corpóreo menor do que H. castroi. Além disso, H. pleoacuta reproduz-se com maior intensidade no outono e H. castroi no inverno. Diante dos resultados obtidos pode-se inferir que a coexistência de H. pleoacuta e H. castroi nos tanques de cultivo de trutas é facilitida pelas diferenças observadas no ciclo de vida, especialmente no tamanho corpóreo e nas estratégias reprodutivas.

ASSUNTO(S)

hyalella pleoacuta hyalella castroi ciclo de vida comportamento animal

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