Os assaltos do moinho satânico nos campos e os contramovimentos da agricultura familiar : atores sociais, instituições e desenvolvimento rural no Sudoeste do Paraná

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A motivação para a realização dessa pesquisa partiu da ideia de que os estudos sobre desenvolvimento rural precisam elaborar definições mais claras em relação ao seu escopo, definindo uma temática própria e não apenas importando os temas postos a partir das políticas públicas e da ação do Estado. Por isso, o tema das interfaces entre o papel dos atores sociais e o papel das instituições nos processos de mudança social que incidem sobre as dinâmicas de desenvolvimento rural se reveste de grande interesse. O objetivo dessa pesquisa consistiu em analisar a diversidade dos estilos de agricultura familiar e as formas com que os agricultores foram respondendo às circunstâncias redundantes do crescente processo de mercantilização da agricultura e do espaço rural, tanto em termos de práticas técnico-produtivas como em termos organizativo-institucionais. Para isso, realizamos um estudo de caso no Sudoeste do Paraná, um território onde a importância histórica da categoria agricultura familiar é amplamente reconhecida. A diversidade da agricultura familiar e do meio rural pode ser explicada, por um lado, pela sua crescente mercantilização, por conta da inserção dos agricultores na dinâmica da economia capitalista, enquanto produtores de mercadorias, trabalhadores e demandantes de insumos e tecnologias externas e, por outro, pelas estratégias de reprodução que os mesmos foram estabelecendo como reação a este processo ou mesmo para adaptarem-se a ele. A primeira hipótese levantada assevera que, apesar dos efeitos e consequências da mercantilização, a identidade territorial da agricultura familiar, constituída através de episódios históricos, de sentimento de origem e trajetórias comuns e de valores partilhados, mantém-se enraizada nas concepções mentais dos atores, permitindo que as estratégias familiares postas em prática ganhem uma dimensão social mais alargada, que vão além das formas de organização da produção e do trabalho nas suas propriedades ao institucionalizarem-se na forma de dispositivos de ação coletiva. Neste sentido, a atividade leiteira, estratégia cada vez mais central para a reprodução das unidades produtivas, ganha uma expressão institucional através da organização do Sistema de Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar - SISCLAF, um dispositivo coletivo de ação econômica. O ¿novo cooperativismo¿ emerge de um intenso processo de aprendizagem coletiva, como uma iniciativa inovadora e fundamental para a promoção de processos de desenvolvimento rural no território. Todavia, a segunda hipótese assevera que o SISCLAF e o cooperativismo da agricultura familiar enfrentam dificuldades em consolidar práticas, projetar iniciativas e empreender ações que conduzam a atividade leiteira para além de determinadas reações às contingências do ambiente e, assim, estabelecer uma estratégia coletivamente deliberada de desenvolvimento rural. A integração entre os ramos cooperativos e a articulação destes com os outros atores e instituições é deveras incerta no plano econômico e mais ainda no plano político, porque não há clareza sobre o lugar que cada organização ocupa na correlação de forças entre os grupos e classes sociais do território e na definição dos seus respectivos papéis na dinâmica do mesmo. As hipóteses foram confirmadas pelos resultados alcançados a partir da aplicação de um sofisticado aporte teórico-analítico e de uma série de procedimentos metodológicos, baseados tanto em técnicas de pesquisa quantitativa (lançando mão de diversas fontes de dados e métodos estatísticos) como qualitativa (entrevistas semiestruturadas, observação e participação em eventos). A principal conclusão do trabalho é a de que os processos de desenvolvimento rural têm na ação dos agricultores, como atores sociais ativos, um elemento causal fundamental, mas que só ganham efetividade através de projetos coletivos e deliberados, capazes de operar mudanças sociais, por meio de instituições.

ASSUNTO(S)

family agriculture agricultura familiar desenvolvimento rural rural development pluriatividade rural commoditization institutions cooperativismo instituições cooperativism of diary production paraná, sudoeste southwest of paraná state

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