Organização familiar agrícola: o caso da produção de soja no sul do Brasil / Farm family governance: the case of soybean production in Southern Brazil

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A organização familiar apresenta importância significativa para a economia brasileira. Na produção agropecuária, há atividades com maior predominância dessa estrutura, enquanto em outras a patronal apresenta maior proporção. Neste grupo encontra-se a soja, cujo cultivo caracteriza-se pela existência de economias de escala. Entretanto, no Brasil, sua produção ocorre em ambas as estruturas organizacionais. As duas maiores regiões produtoras do país apresentam características distintas: enquanto no Centro-Oeste predominam as grandes propriedades, no Sul há participação expressiva da agricultura familiar. O presente estudo busca analisar os fatores que favorecem a sobrevivência desta forma organizacional, por meio de uma pesquisa descritivo-explicativa. Seu aporte teórico engloba economias de escala, relacionadas ao tamanho dos estabelecimentos, de escopo, no que diz respeito à diversidade de atividades, e a influência do ambiente institucional, em especial dos programas de financiamento, que diminuem o custo produtivo. Consideram-se ainda aspectos comportamentais, com referência ao oportunismo e à necessidade de monitoramento, assim como custos de saída da atividade, a exemplo daqueles relacionados ao nível educacional. A organização familiar é considerada uma estrutura específica, cujas particularidades, vantagens e desvantagens em relação à patronal são ressaltadas. Após discorrer acerca de aspectos da produção de soja no país e nas principais regiões produtoras, examina-se sua configuração no Rio Grande do Sul, Estado com maior histórico do cultivo e presença expressiva da agricultura familiar. Para tanto, entrevistaram-se 110 produtores de soja, familiares e nãofamiliares, entre outubro e dezembro de 2010. Os resultados apontaram semelhança na diversificação dos produtos comercializados entre estabelecimentos familiares e patronais, maior nível de confiança entre os trabalhadores familiares, maior utilização de crédito governamental e mão-de-obra familiar. Além disso, os produtores familiares apresentaram nível educacional mais baixo e visualizaram diferentes possibilidades de atuação em relação aos patronais. Em ambos os casos, o gosto pela agricultura e o desconhecimento de outras atividades foram mencionados como principais impedimentos para sair da agricultura. Efetuou-se ainda uma regressão logística, com vistas a identificar a influência na organização familiar das seguintes variáveis: renda da propriedade oriunda de outros produtos que não a soja, nível de confiança nos trabalhadores, compartilhamento de mão-de-obra, crédito de origem governamental e anos de estudo. O modelo proposto apresentou como significativas as variáveis relacionadas ao financiamento, à educação e à confiança. Assim, a existência da organização familiar baseia-se na estrutura familiar de trabalho, que proporciona menores custos de transação e de produção e favorece o maior nível de confiança nos trabalhadores. Pode-se mencionar ainda o incentivo institucional representado pelo crédito governamental, bem como a existência de pelo menos dois produtos geradores de renda, como outros fatores característicos dessa estrutura. Finalmente, o gosto pela atividade e a qualidade de vida proporcionada pela área rural contribuem para a continuidade da organização familiar.

ASSUNTO(S)

agricultura familiar estrutura organizacional family farming soja soybean production structure of governance

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