Oral practices in school / As praticas orais na escola : o seminario como objeto de ensino

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

Este trabalho tem como foco de estudo as práticas orais na escola de Ensino Fundamental, mais especificamente, a atividade de seminário e o gênero exposição oral nas aulas de Língua Portuguesa. A motivação para esta pesquisa surgiu ao longo de nossa trajetória como professora de Língua Portuguesa, em escolas públicas, ao observarmos a falta de planejamento e de sistematização das atividades relacionadas à exposição oral na escola, especialmente em atividades como seminários. Começamos, então, a observar em que momentos privilegiava-se o trabalho com esse gênero e verificamos que, na esfera escolar, o espaço dedicado ao desenvolvimento das competências lingüística, textual e comunicativa apropriadas ao domínio do expor era restrito, limitado a atividades como leituras em voz alta e discussões informais sobre temas relacionados aos conteúdos das diversas disciplinas. Percebemos, neste trabalho, que o processo de reflexão sobre a tomada da palavra publicamente pelos alunos como locutores ? e não apenas como interlocutores nas diversas práticas sociais ? é ainda pouco considerado pela escola e pelo sistema educacional como um todo, porque a prática da exposição oral em seminário não é concebida como um locus que demande reflexão, sistematização e avaliação didática por parte do professor de língua e dos alunos. Isso acontece, provavelmente, devido à antiga tradição de ensino e aprendizagem de língua materna, em que a leitura e a produção de textos escritos eram ? e ainda são ? consideradas as principais atividades necessárias para o desenvolvimento das competências lingüística e comunicativa dos alunos. Essas reflexões nos possibilitam formular a hipótese de que a exposição oral é um instrumento importante e necessário na escola, porque funciona como um mediador fundamental no desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e produção de fala em contextos formais dentro e fora da escola. Embora os aprendizes passem, em média, oito anos no Ensino Fundamental, a maioria deles - apesar de estar ao longo do processo escolar produzindo a exposição oral em seminários ou debates - não demonstra ter desenvolvido, ao final desse nível, uma competência em relação a esse gênero. A abordagem teórico-metodológica que sustenta a nossa análise está inscrita na sociolingüística interacional, especialmente o conceito de enquadre comunicativo e no sociointeracionismo, sobretudo aquele empreendido pelo Grupo de Genebra, e nas discussões sobre interação, comunicação e práticas de linguagem, na perspectiva de Vion (1992), Bronckart (1997), Dolz &Schneuwly (1996) e Schneuwly &Dolz (1997). Esses conceitos são especialmente importantes quando se trata de estudar as ações de linguagem realizadas por sujeitos inscritos dentro de um quadro social mais amplo e mediadas por uma situação comunicativa específica. Ainda neste estudo, é nosso objetivo examinar como os alunos mobilizam os elementos não-verbais (paralingüísticos e cinésicos) e prosódicos no curso das apresentações de seminário. Esses elementos são essenciais quando se estudam as práticas de linguagem oral, dada sua natureza multimodal. Constatamos, nas análises, que as aulas de Língua Portuguesa não são planejadas com a intenção de desenvolver habilidades relacionadas ao exercício da exposição oral. Por isso, na primeira apresentação de seminário por parte dos alunos, foram constatados três tipos de enquadres comunicativos. O primeiro deles, o Enquadre A, reflete a forma mais comum de realização de seminários na escola hoje, a saber, a leitura em voz alta dos textos resultantes da pesquisa, sem a exploração de outros recursos, tais como o contato visual com a platéia, introdução e fechamento, gestualidade apropriada, texto expositivo que consiga prender a atenção da platéia. O Enquadre B também consistiu de leitura do material escrito da pesquisa, no entanto, apresentou características um pouco diferenciadas, porque os alunos enunciaram textos de introdução e/ou de conclusão, porque houve a mobilização de recursos gestuais e porque houve uma interação mais direta com a audiência por meio do olhar e da expressão facial. Apesar de alguns alunos olharem timidamente para a platéia (na maioria das vezes, desviando os olhos dos colegas), o contato visual com a audiência aconteceu mais vezes do que nas apresentações do enquadre A. O terceiro enquadre (Enquadre C) ? muito diferenciado dos dois anteriores ? foi produzido por um número restrito de alunas (03 dos 41 alunos), que tentaram assumir o ethos de expositoras, mobilizando a atenção e a participação da platéia para a qual elas estavam expondo. Houve presença de falas de conclusão, as falas foram mais fluentes, com o uso do texto escrito como apoio. As alunas desse enquadre usaram recursos paralingüísticos (risos) para captar a atenção da platéia, recursos cinésicos (gestualidade e olhar) e recursos prosódicos (tom de voz, altura e boa qualidade de voz) de forma mais consciente. No segundo momento, após as intervenções, verificamos que os alunos mobilizaram com mais naturalidade os recursos não-verbais e prosódicos para travar uma interação mais efetiva com a platéia. As principais diferenças entre este momento e o anterior são: (i) a seleção dos conteúdos efetuada pelos alunos consegue produzir uma exposição sobre o tema escolhido com um sentido global. (ii) a emergência dos papéis sociais do expositor e da platéia; (iii) a estruturação composicional da exposição oral, que revela uma progressão textual mais adequada, resultando um número bem menor de incoerências locais. Com isso, fica evidenciado o papel central que as intervenções didáticas e as discussões avaliativas podem ter na construção de uma mudança significativa das práticas de linguagem oral na escola

ASSUNTO(S)

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