Ocupação humana e reflexos sobre a cobertura florestal em um assentamento rural na Amazônia Central / Human occupation and effects on the forest cover in a rural settlement in Central Amazonia

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

16/04/2010

RESUMO

Assentamentos rurais criados ao longo das últimas quatro décadas para abrigar parte do contingente populacional atraído para a Amazônia foram relacionados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) dentre os principais responsáveis por seu desmatamento no ano de 2008. O impacto dessa ocupação humana é mais profundo se considerados os processos de degradação associados à fragmentação florestal e utilização e exploração dos recursos naturais nos assentamentos. Neste trabalho foram investigados aspectos relacionados à interação entre homem e ambiente no Projeto de Assentamento (PA) Uatumã. Criado em 1987 no município de Presidente Figueiredo, Amazonas, Brasil (59 50 14 W e 02 02 24 S), o assentamento está localizado em uma área objeto de exploração madeireira há aproximadamente 30 anos. Procurou-se identificar aspectos referentes à história de sua ocupação, analisando-se a relação entre processos envolvidos com a chegada e o estabelecimento das famílias no local e os reflexos sobre o desmatamento e a degradação florestal em seus limites. Dados sobre o desmatamento foram obtidos de uma série temporal de 14 imagens do satélite Landsat. Essa informação foi relacionada aos dados coletados em entrevistas com moradores e funcionários do governo atuando no local, assim como a aspectos da história de desenvolvimento da região. De inventários florestais conduzidos em 15 propriedades do assentamento foram calculadas a densidade, área basal e biomassa de árvores e lianas nessas florestas. Dados reportados em estudos conduzidos em florestas não alteradas adjacentes foram utilizados para comparação entre essas variáveis e para avaliação da degradação florestal no assentamento. Estabelecido em uma fronteira aberta pelas construções de rodovias e da Usina Hidrelétrica de Balbina, problemas relacionados à infertilidade do solo, instabilidade econômica, precariedade na infraestrutura e debilidade na assistência institucional comprometeram a permanência das famílias nos lotes. A exploração madeireira já estabelecida na região consolidou-se como principal opção para aqueles que permaneceram no local, o que evitou a derrubada maciça da floresta no assentamento. Embora variando dentre os lotes em função de sua proximidade à rodovia que corta o assentamento, a cobertura florestal média em seu limite é de 80%. As taxas de desmatamento relativas ao longo desse período oscilaram tanto em função de forças locais favorecendo a conversão florestal como de causas subjacentes ocorrendo em contextos regionais, nacionais ou globais. A exploração dos recursos florestais no assentamento reduziu a densidade (476.7 indivíduos ha-1, p <0.001), área basal (23.3 m2 ha-1, p <0.001) e biomassa seca acima do solo (295.7 Mg ha-1, p = 0.008) de árvores na área de estudo. Foi calculada uma redução na biomassa arbórea seca acima do solo na área de estudo de aproximadamente 12% em relação ao valor médio encontrado nas florestas não alteradas da região. Assentamentos humanos mal planejados e administrados em meio à floresta densa da região amazônica não só abrem a fronteira para a conversão da cobertura florestal como para a exploração de um vasto estoque de madeira, provocando desmatamento e degradação nesses ecossistemas. Compreender as entrelinhas permeando a relação entre homem e meio ambiente é fundamental para o desenvolvimento de alternativas mais interessantes e adequadas à realidade local e para a elaboração de propostas de novos modelos de ocupação e desenvolvimento para a região.

ASSUNTO(S)

assentamentos humanos amazônia degradação florestal desmatamento projeto de assentamento uatumã ecologia das paisagens inventário florestal manejo florestal

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