O voto e seus enigmas: A dimensão subjetiva das escolhas eleitorais

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Este trabalho analisa a dimensão subjetiva das escolhas eleitorais, através da noção psicanalítica do desamparo humano. Desenvolvemos essa noção tendo como referência o pensamento de Freud e Lacan e, acompanhada por pensadores das ciências sociais, nos aproximamos da realidade social, para alcançar em seu horizonte a subjetividade de nossa época. A condição de desamparado faz parte da estruturação do sujeito, do fato de ele precisar inteiramente do Outro para se constituir. No entanto o humano cria mecanismos para se defender de um desamparo absoluto, encontra modos de vida que facilitem a sua condição de ser. Os ideais e os pactos sociais são modalidades consoladoras, sem as quais o sujeito se fixa em suas particularidades, sem comprometer-se com um projeto civilizatório. Caracterizamos a sociedade contemporânea como aquela que, pela queda sucessiva de uma série de ideais, vem, cada vez mais, fomentando o desamparo. Na ausência de ideais sociais e políticos nos quais o eleitor possa se referenciar, percebe-se uma tendência, cada vez maior, para o individualismo e para a ausência de investimentos em projetos coletivos. Esse modo de operar se revela também na hora de escolher um candidato, que se pauta na lógica do particular, motivada por perspectivas pessoais, sem vínculos com a promoção da vida pública. A nossa pesquisa foi realizada em Natal, durante a campanha eleitoral de 2002. O nosso objetivo é entender, principalmente, a lógica das escolhas eleitorais da população da periferia, aquela que está diante de um duplo desamparo: o da sua condição humana e aquele advindo da precária situação de subsistência. Sustentamos a idéia de que o candidato, pela posição que ocupa na sociedade, detém a função de dar algumas garantias ao eleitor e, dessa forma, entra na série daquilo que pode aliviar e promover um alento na vida das pessoas. Mesmo considerando o fato de que o eleitor não acredita mais nos seus representantes, é isso o que se espera deles. Partimos das seguintes questões: como identificar a dimensão subjetiva da escolhas eleitorais e de que modo esta se revela na nossa contemporaneidade? Como acontece a escolha eleitoral da população que está à margem do sistema? A tese que defendemos é que o estado de desamparo é um substrato subjetivo que está na base de toda escolha eleitoral, mas que se configura de forma diferenciada a partir das referências do eleitor, do seu contexto histórico, dos fatores econômicos, etc. O sujeito, diante do seu desamparo, constrói caminhos para poder sustentar a sua existência, o que denominamos aqui de projeto ordenador. Esse fator ordenador é um dos elementos que motiva os eleitores a fazerem suas escolhas eleitorais

ASSUNTO(S)

politique política désarroi Élections desamparo ciencias sociais aplicadas eleições

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