O sujeito incestuoso e o pacto denegativo: considerações afetivas sobre o porta-voz de um tempo pós-moderno / O sujeito incestuoso e o pacto denegativo: considerações afetivas sobre o porta-voz de um tempo pós-moderno / Incestuous individual and denegatgory pact: affective considerations on the spokesman of a postmodern time / Incestuous individual and denegatgory pact: affective considerations on the spokesman of a postmodern time

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A violência sexual contra crianças e adolescentes vem sendo cada vez mais denunciada e, nesta configuração, o incesto é o tipo mais evidente. Essa grave questão social é enfrentada por meio de estratégias de cuidado às famílias vitimizadas, mas, em geral, pouca atenção é dispensada ao violentador incestuoso e os sentidos da construção deste personagem. O simples encarceramento do sujeito violento não se constitui em estratégia que abarca a complexidade do problema, sendo necessário explorar mais profundamente os elementos envolvidos, dentre eles, os vínculos interpessoais estabelecidos pelos violentadores e o contexto sócio-histórico-cultural em que as relações se dão hoje, ou seja, a pós-modernidade. Esse trabalho objetivou compreender as dinâmicas familiares, as trajetórias de vida e os sentidos que a cena incestuosa revela aos sujeitos entrevistados. Com base no método psicanalítico, foram realizadas pesquisa documental e entrevistas com dois acusados de manterem relações sexuais com a filha ou a enteada. A questão transferencialcontratransferencial propulsionou a revelação das estratégias vinculativas manipuladoras dos sujeitos. Ao longo do processo pude reconhecer a dinâmica afetiva que me acometia. As representações cruéis e hediondas que me habitavam, aos poucos eram transformadas em representações cândidas e perturbadoras, essencialmente ambivalentes. As histórias de vida revelaram vínculos precários e descartáveis, estabelecidos nas várias facetas das famílias apresentadas. Submersos na ordem do gozo imperativo, em que tudo é possível, os limites e os interditos se enfraquecem e desfalecem junto às organizações afetivas ensaiadas, denotando a frágil montagem do pacto denegativo. Os sujeitos incestuosos, violentos, mas adaptados ao mundo do trabalho e à ordem caótica da existência anônima, ao violentarem, submeterem o outro e atuarem como predadores psíquicos, revelam-se como porta-vozes dessa que é apontada como uma inclinação pós-moderna, a volatilidade dos vínculos intersubjetivos em constante desintegração e mudança.

ASSUNTO(S)

child molester bonds psychoanalysis pós-modernidade incesto abusador vínculos psicanálise psicologia violência sexual postmodernity incest

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