O que estamos fazendo? Da atualidade de A Condição Humana, de Hannah Arendt / What are we doing? The actuality of The Human Condition, Hannah Arendt

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

28/08/2009

RESUMO

A presente dissertação tem como objetivo refletir sobre a atualidade à luz dos conceitos apresentados por Hannah Arendt em A Condição Humana, obra que, definindo o homem como ser condicionado, examina as categorias da vida ativa trabalho, fabricação e ação e sua localização no mundo. Meio século após o lançamento do livro, a reflexão empreendida por Arendt continua atual e inspiradora. Nesse período, consumo, tecnologia e ecologia transformaram o mundo e tornaram mais complexa a sociedade. Esta, descrita por Arendt como esfera subjetiva da existência, que invade tanto a esfera pública quanto a privada, absorveu todos os grupos sociais e sufoca hoje a espontaneidade do agir humano, deixando como única liberdade possível a liberdade de escolher o que consumir. A ecologia, que só entrou na pauta de discussões mundiais nos últimos quarenta anos, tem o potencial de alterar os parâmetros da economia de desperdício denunciada por Arendt, mas tende a restringir suas preocupações ao âmbito da necessidade e a ampliar a rede de exigências sociais. O homem, cada vez mais afastado do senso comum, aprofundou a fuga para dentro de si mesmo, auxiliado pelo progresso técnico-científico da humanidade. Esse processo não representa apenas o afastamento do mundo, mas também o esquecimento do corpo, pois para fugir do mundo o homem precisou depreciar a percepção direta dos objetos pelos sentidos, percepção por meio da qual o corpo interage com o ambiente. Paradoxalmente, ao interiorizar-se o homem passou a metabolizar o mundo. A cultura, como parte deste, passou a ser consumida na forma de entretenimento, o que só se tornou possível em razão dos avanços tecnológicos que fizeram deslanchar os meios de comunicação de massa após o advento do cinema. A culminância disso é a realidade virtual, que exprime bem o sonho da fuga para um mundo criado pelo próprio homem. O indivíduo, acuado pela onipresença da sociedade, parece dispor apenas de duas opções: adequar-se ao código de valores sociais, tornando-se visível apenas na qualidade de consumidor, ou esquivar-se do olhar alheio, buscando a invisibilidade da vida privada. Em ambos os casos, deixa de aparecer ao mundo em sua singularidade propriamente humana. A substituição da objetividade do mundo pela subjetividade desestimula a compreensão, ocultando assim o sentido daquilo que se faz. Ciência e tecnologia vêm apagando as longevas fronteiras entre natureza, mundo e mente, as quais propiciavam parâmetros duráveis à existência humana. Mais que construir o mundo, o homem reconstrói-se. A obra de Arendt, particularmente o arcabouço conceitual de A Condição Humana, convida à reflexão sobre o sentido das atividades humanas, algo de inestimável importância neste início de século.

ASSUNTO(S)

condição humana sociedade tecnologia consumo natureza compreensão filosofia human condition, society, technology, consumption, nature, understanding

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