O predomínio das memórias frente ao romance nas narrativas a respeito da ditadura militar brasileira

AUTOR(ES)
FONTE

Estud. Lit. Bras. Contemp.

DATA DE PUBLICAÇÃO

30/09/2019

RESUMO

Resumo Este artigo analisa o declínio gradual na produção de romances sobre a ditadura militar brasileira (1964-1985) e a ascensão das memórias, gênero a tal ponto difundido que se converteu durante décadas na principal fonte histórica sobre o período, como mostra o historiador Carlos Fico. As memórias são ainda hoje largamente mais publicadas do que os romances. Para explicar o fenômeno, articulam-se argumentos epistemológicos, literários e históricos, lançando mão especialmente de teóricos como Merton, Russell, Avelar e Fico. O livro Viagem à luta armada (1996), de Carlos Eugênio Paz, servirá de estudo de caso. Defende-se a hipótese de que a preponderância das memórias deve-se: a) à noção de privilégio epistemológico envolvendo as pessoas afetadas diretamente pelo regime ditatorial; b) à noção de que a escrita ficcional não seria fidedigna às versões sobre o passado reivindicadas por diferentes segmentos da sociedade. Ambas noções são questionadas neste artigo.Abstract This paper explains the gradual decline of novels about the Brazilian military dictatorship (1964-1985) and the rise of the memoir genre, to such an extent that the latter has become the main historical source for decades, according to the historian Carlos Fico. The memoir narratives are hitherto far more published than novels. Justification for this draws on Merton, Russell, Avelar, and Fico to bring together epistemological, literary, and historical arguments. Carlos Eugênio Paz's Viagem à luta armada (1996) is used as a case study. We suggest that the prevalence of the memoir genre is due to: a) the idea of an “epistemological privilege” regarding those people directly affected by the dictatorship; b) the concern that fiction could mislead the versions of the past taken to be true by different groups. This essay challenges both positions.

Documentos Relacionados